terça-feira, 31 de março de 2009

PARA ALEXANDRE WELTE

Uma pose para a tia Vania.
"Tô bonito?"


Alexandre, de blusa branca, em pé, junto à grade,
comemora aniversário com amiguinhos, primos e irmãos


Na piscina, de óculos escuros, curtindo a vida

Os amigos, seu maior tesouro

Em casa, na fazenda, família feliz e unida:
pai Vlademir, a mãe Eliane, e o irmão Lucas.
Faltou a bela irmã Daniele.
Mas alguém tem de bater a foto...

Há no mundo alguém mais de bem com a vida do que eu?

"Careca? Nem ligo.
Não é dos carecas que elas gostam mais?"



Para onde vai o canto,
depois que os lábios se fecham?
Para onde vai a prece,
depois que o coração silencia?
E os rostos que amamos para onde vão, Senhor,
depois que nossas pupilas
se transformam em gotas de lama?
Ontem vi uma andorinha
que devia ter uns cinco milhões de anos.
Será que eu também sobreviverei ao que restar de mim?”

(Poema de Jamil Snege)


Faleceu às 12h20 desta quarta-feira, 25 de março de 2009, aos 19 anos de idade, o estudante de Direito das Faculdades Curitiba, Alexandre Sovinski Welte. Desde 2006, ele sofria de leucemia. Mesmo com diversas mobilizações para a doação de Medula Óssea, não foi encontrada compatibilidade genética suficiente para o transplante. Pudera! Deve ser muito difícil localizar o DNA de um anjo.

Criança, ainda, diziam que Alexandre Sovinski Welte havia nascido velho, tal a seriedade com que encarava tudo na vida. Até as brincadeiras. O que as pessoas não entendiam é que Alexandre havia nascido sábio e iluminado. De uma lucidez e generosidade inigualáveis, ao ponto de cuidar dos irmãos mais velhos, Lucas e Daniele, com a dedicação de um adulto. Mas era ele o irmão, o filho, o primo, o sobrinho, o neto caçula.

Já doente, mesmo passando por sessões agressivas de quimioterapia, ele jamais se queixou ou lamentou. Ao contrário. Era exemplar. Ao ponto de prestar vestibular para Direito e ser aprovado. Conseguiu freqüentar as aulas durante mais de um ano. Só ao iniciar, em 2009, o segundo ano de Direito e ainda trabalhando no Banco de Fomento, ele teve de interromper o seu ritmo de vida. Foi a parte mais doída para ele. Porém, ele nada disse. Aceitou o seu destino solitário com altivez.

Nos últimos dias de vida, extremamente debilitado e abaixo de muita química e morfina, ele abriu os olhos, sorriu e pediu, com grande dificuldade um pedaço de papel. A mãe dele, Eliane, diante daquele calvário, pensou que o filho delirava. Mesmo assim, o pai, Vlademir, a irmã e a namorada, Ana, lhe deram uma folha de papel. Alexandre pediu que a irmã escrevesse o que ele ditou com sacrifício:

“Vença quem vencer esta batalha (a vida ou a morte), todos nós seremos vencedores. E eu serei o maior vitorioso de todos, porque consegui reunir toda a minha família e amigos.

Amo cada um de vocês.

Beijos.

Tchau!

Alexandre”.

Depois disso, ainda beijou os pais, os irmãos, a namorada e as tias Sophia, Inês e Vania.

Diz a sabedoria popular que, em todas as famílias, há sempre um padre, uma prostituta, um louco ou um excepcional.

Na família de Alexandre não há um padre e nem uma prostituta. E toda a loucura e excepcionalidade existentes, Deus deve ter juntado tudo para espargir um pouco sobre a cabeça de cada um.

Mas esta é uma família rara e privilegiada. Pois recebeu a graça de conviver, por 19 anos, com um anjo: Alexandre Sovinski Welte. E quem o conheceu também foi abençoado.

A Deus e a você, Alexandre Sovinski Welte, a eterna gratidão, amor e saudades de toda a sua família e amigos.


Nota final: O corpo de Alexandre Sovinski Welte foi velado na Capela Vaticano, a partir das 19h30 do dia 25 e enterrado, às 11 horas da manhã do dia 26, no Cemitério Parque Iguaçu. Hoje, 31, foi rezada a Missa de Sétimo Dia em intenção à sua alma de anjo.

Vania Mara Welte

sexta-feira, 20 de março de 2009

OS BASTIDORES DE UMA ENTREVISTA - FRANCISCO EM PESSOA


De 2002 a 2005, a jornalista Vania Mara Welte
– ganhadora do Prêmio Esso de Jornalismo –
conseguiu algo quase tão difícil
quanto entrevistar Dalton Trevisan:
entrevistou Francisco Cunha Pereira Filho,
sempre de forma esporádica



A entrevista com o diretor-presidente da Rede Paranaense de Comunicação, o empresário, advogado, professor e jornalista Francisco Cunha Pereira Filho, teve início há anos, em 2002. Foi uma luta e uma conquista em diversas etapas, com a matéria sempre atualizada, mas não concluída, o que impedia a sua publicação. Ao ser finalizada, anos depois, em 2005, se apresentou em um novo espaço, o do Caderno de Ideias. Mas ela se tornara imensa. Cortar? Quem ousaria? Ficou guardada, Esperando o momento oportuno. Hoje, para que o leitor acompanhe a longa trajetória deste trabalho, narra-se os bastidores desta tarefa.

Os primeiros contatos para tentar a entrevista foram feitos, ainda em 2002, pela própria repórter com as empresas de Francisco Cunha Pereira Filho. As tentativas foram inúmeras. Mas, desistir, jamais. As secretárias do empresário das comunicações ficavam de retornar a ligação, dando a resposta. E nada. Até que, certo dia, a jornalista deixou os números dos telefones onde poderia ser encontrada. Os fixos, da sua residência e inclusive dos locais onde trabalhava, e o do celular. E avisou que ficaria no aguardo da resposta, mesmo que fosse um “não”.

Dias depois, na redação da Comunicação Social do Palácio Iguaçu, onde a repórter também trabalhava, a jornalista Alícia Dudeque, que cumpria o período da tarde, atendeu um telefonema:

– Alô! Pois não?
– Por favor, eu quero falar com a jornalista Vania Mara Welte.

– Ela não está. Ela trabalha no período da manhã e já foi embora. O senhor quer deixar recado? Quem é que está falando?
– Francisco Cunha Pereira Filho.

– Francisco Cunha Pereira Filho?
– Sim.

– Ah! É? E aqui é a rainha Elizabeth!
– Mas aqui é o Francisco Cunha Pereira Filho, sim.

– O diretor-presidente da Rede Paranaense de Televisão?
– Sim! (rindo)

– Deixe de brincadeira... O que o senhor deseja? (Séria, achando que alguém lhe pregava uma peça.)
– Gostaria de falar com a Vania para marcar a entrevista que ela quer fazer comigo.

– Tudo bem. E quem eu digo que ligou?
– O Francisco Cunha Pereira Filho.

– Ah! Por que o senhor não diz a verdade?
– Porque sou o Francisco, mesmo! (Rindo muito e Alícia ainda duvidando.)

– Está bem. E eu sou a rainha da Inglaterra, mas vou anotar o seu recado.

Duvidando sempre da autoria do telefonema, Alícia deixou o recado na mesa da colega, que só o leu no dia seguinte. Mas, naquele mesmo dia, tarde da noite, o telefone também tocou na residência de Vania. O diálogo foi o seguinte:

– Alô!
– Por favor, gostaria de falar com a jornalista Vania Mara Welte.

– É ela. Quem está falando, por favor?
– Francisco Cunha Pereira Filho.

(Um breve silêncio e o espanto)
– Doutor Francisco?
– Sim! Da Gazeta. Você não esperava o meu retorno?

– Eu aguardava o retorno de uma de suas secretárias.
– Mas se eu mesmo posso ligar para você, por que não fazê-lo? Estou a sua procura. Eu já liguei para o seu celular, para o Palácio Iguaçu, onde fui atendido pela rainha Elizabeth (rindo), e agora para a sua casa.

– O senhor é mesmo uma pessoa incrível (lembrando das dificuldades e da distância que alguns entrevistados gostam de colocar entre si e o jornalista).
– Você quer uma entrevista, não é?

– Sim, quero entrevistá-lo, se for possível.
– Vamos lá. A entrevista é por telefone?

– Não, doutor Francisco. Tem de ser pessoalmente. Tudo bem?
– Você pode me mandar as perguntas, para eu ter uma idéia do teor da entrevista?

– Ah! Não dá, não, porque eu pretendo fazer uma entrevista intimista, um perfil seu...
- Ih! Como vai ser isso?

– Eu pergunto e o senhor responde. (risos) E na medida em que o senhor vai falando, novas perguntas irão surgindo. Assim a entrevista fica melhor.
– E qual será a primeira pergunta?

– Qual é a sua mais remota lembrança de infância?
– Nossa! (rindo)

– Não se preocupe, já falei com algumas pessoas e elas me contaram algumas histórias suas...
– Ui! Que medo! (risos dos dois lados).

– São histórias ótimas. Todas em seu favor.
– Hummmm.... (rindo). Vamos ver... Você telefona na segunda-feira, pela manhã, para a minha secretária. Vamos estudar a agenda para marcarmos a data e o horário.

– Obrigada. E devo ligar para qual das suas secretárias?
– Para dona Iracilda.

– Na Gazeta do Povo?
– Isso. Ela me localiza onde eu estiver. Está bem?

– Ótimo. Muito obrigada.

– Boa noite.
– Boa noite.

Atendendo às orientações do entrevistado, a ligação telefônica foi feita, naquela manhã de segunda-feira. Além desta, outras duas. Perto das 13 horas de terça-feira, o próprio entrevistado ligou mais uma vez para a redação no Palácio Iguaçu, marcando com a entrevistadora o encontro para o dia seguinte. Mas a entrevista teve de ser feita em quatro etapas. Em 2005, mais uma.

A primeira e a terceira foram realizadas, no gabinete do entrevistado, no Palacete do Batel – que pertencia ao governador do Paraná, Moisés Lupion, já falecido – e que servia, na época, de sede à Rede Paranaense de Televisão.

A segunda etapa da entrevista se deu na sala dele, na sede da Gazeta do Povo – foi bem no dia em que o porta-voz da presidência da República, ministro Sérgio Amaral (já falecido), saiu em defesa do então presidente Fernando Henrique Cardoso e da liturgia do cargo que ele ocupava. Entre perguntas e respostas, pequenas interrupções.

O entrevistado tinha de atender o telefone, passar os olhos nas cópias das páginas que fechavam o jornal e que eram trazidas, da redação até a mesa dele, pela secretária Mariza Keiko Suzuki. Após observações do chefe, Mariza as devolvia à redação. Em uma das páginas, problemas. Nos intervalos disso tudo, assistiu ao Jornal Nacional da Rede Globo. Diante da exposição das matérias locais, demonstrou seu entusiasmo. “Imagens nossas. Matéria nossa”, disse algumas vezes, sorrindo satisfeito. Mas diante dos problemas do fechamento do jornal, não deu outra: a entrevista teve de ser novamente interrompida.

Na mesma noite, um novo telefonema do entrevistado à jornalista Vania. Gentil, ele falou sobre as dificuldades daquela noite. E reafirmou o encontro para finalizar a entrevista. A terceira fase foi iniciada e mais uma vez interrompida, por longos meses e culpa de circunstâncias da vida atribulada, do entrevistado e da jornalista.

Nas três primeiras etapas do trabalho jornalístico com Francisco Cunha Pereira Filho, a entrevistadora fez algumas observações. Foram feitas em idas e vindas, em corredores e salas de espera povoadas de pessoas importantes e anônimas, oriundas das mais diversas partes, atividades e estratos sociais, em entrevistas entrecortadas por telefonemas e urgências distintas, tanto no Palacete do Batel, como na sede da Gazeta. Os cenários sempre contrastaram com a simplicidade do homem que conduziu, por muitos anos, o maior quinhão do quarto poder deste estado. E o resultado desse contraste pode ser medido pela grandeza de sua própria dimensão humana.

(Entrevista concedida à Vania Mara Welte, publicada no Caderno Especial do Jornal Gazeta do Povo, nesta quinta-feira, 19.03.2009)

ÍCONE DA IMPRENSA PARANAENSE

Ao receber o prêmio Brigadeiro Franco das mãos do pai,
ganhou um abraço.
“Foi um dos melhores abraços
que nós dois trocamos na vida”, disse

(Foto da primeira comunhão,
do arquivo pessoal do entrevistado)


Extremamente ocupado, trabalha de 13 a 18 horas por dia. Mas despojado de complicações inerentes ao poder que tem, Francisco Cunha Pereira Filho conseguiu tempo para falar – em cinco ocasiões distintas – sobre a sua infância, seus sonhos, suas pequenas frustrações e conquistas. Enfim, sobre a sua vida. Para a maioria das pessoas, Francisco Cunha Pereira Filho é grife. Sua presença, mesmo que silenciosa, causa impacto. Nenhum evento de importância aconteceu no Paraná sem que ele fosse convidado. Mas no passado, ele lembra que não era assim. “Na minha juventude, lamentei ter perdido belas festas por não ter recebido um convite”, diz, sem qualquer constrangimento. E precisa? Afinal, ele é, simplesmente, Francisco Cunha Pereira Filho.

Apontado pelas mulheres como um belo homem, Francisco contestou. “Nunca me considerei bonito. Ao contrário, sempre achava que bonitos eram os outros. Não eu. Até acho que, naquela época, faltou para mim um pouco de disputa”, argumenta, rindo. Contradizendo sua modéstia, na Universidade Federal do Paraná, onde lecionava no Curso de Direito, contam que todo o final de ano, assim que os professores entregavam as suas fotos à Comissão de Formatura, as alunas sempre davam um jeito de roubar, para elas, a foto do professor Francisco. Ele era o único mestre que tinha de dar duas fotos todos os anos.

Falando sobre a sua trajetória de vida, o austero Francisco também surpreendeu ao afirmar que gostava de bailes de carnaval. “Eu me divertia muito”, revelou. Já, sobre o trabalho, declarou adorar ter um bom desafio pela frente, como o que enfrentou ao comprar, junto com Edmundo Lemanski, um jornal falido (A Gazeta do Povo). Em apenas sete anos de atividades, ele o recuperou. Com mais alguns anos, o transformou em um dos mais respeitados veículos de comunicação do Paraná, ampliando ainda o seu poder. Fatos importantes da história do Paraná, que se mesclam à sua própria vida, e muito mais, Francisco Cunha Pereira Filho revelou em entrevista exclusiva à jornalista Vania Mara Welte.

Qual é a sua mais remota lembrança?
Tenho duas lembranças marcantes da infância. A minha Primeira Comunhão, com todo aquele ritual, a liturgia, o misticismo. A seriedade da ocasião foi muito tocante. A outra foi o meu primeiro dia de aula no Jardim da Infância do Colégio São José. O primeiro dia me marcou muito porque foi a primeira vez em que fiquei sozinho, sem os meus pais. Foi um sentimento forte de independência e, ao mesmo tempo, de responsabilidade.

Quantos anos o senhor tinha?
Cinco. E me senti gente (rindo).

Como foi a sua infância?
Muito feliz. Minha família era muito unida. Todos os irmãos e primos cresceram juntos, em torno dos pais e dos avós.

Diria que a sua família é bastante patriarcal?
Posso dizer que sim. O exemplo de união nos foi dado pelo nosso avô materno, o professor e médico João Cândido Ferreira. Ele era uma figura mágica e central. Em torno dele gravitavam a avó, os filhos, genros, noras e netos. A reunião em torno dele era semanal. Inteligente, criativo, dono de muitas histórias, o meu avô cativava a todos. Mesmo que a história se repetisse, todos a ouviam sem tecer qualquer comentário. E demonstravam o mesmo interesse da primeira vez. Inclusive as crianças. Era um tempo de grande felicidade e até magia.

Essa união familiar persistiu?
Sim. Eu sou o mais velho de quatro irmãos: Lincoln, advogado, já foi deputado estadual no Paraná; João Cândido, que é médico; e Maria Julinda, que reside na Paraíba, é viúva de um engenheiro de açúcar de João Pessoa, o Francisco Leocádio Ribeiro Coutinho. Os dois tiveram sete filhas, e cada uma delas têm como segundo nome Julinda, o nome da nossa mãe. Todas as sete são casadas e têm em média três filhos. Apesar da distância e dos compromissos, nós continuamos unidos. Estamos sempre em contato, sempre nos vendo. Maria Julinda, constantemente, vem a Curitiba.

E o patriarca?
Sem dúvida alguma era papai, o desembargador Francisco Cunha Pereira, que chegou aos 102 anos de idade (hoje, falecido). Mineiro das Alterosas, ele se tornou um paranaense honorário. Um curitibano por opção, de alma e coração.

Voltando um pouco aos dias de infância, as suas brincadeiras eram comportadas?
Eram normais. Tinha um convívio tranquilo com os irmãos, os primos e os colegas do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, onde fiz o primário. Nossas brincadeiras consistiam em andar de bicicleta... Fazíamos competições em corridas de bicicletas em torno da praça, perto da casa do meu avô. Eu também gostava muito de jogar futebol.

Em que posição?
Na de goleiro. Eu sonhava, um dia, ser goleiro.

E o que aconteceu com o sonho?
Nunca realizei o meu sonho. Defendi algumas bolas, mas nunca consegui grande sucesso (risos). Depois, lá pelos 10, 11 anos, eu tive o meu interesse despertado pelo rádio galena. Colocava-se no ouvido e procurava-se com uma agulha, na pedra bruta, localizar uma estação de rádio. Tudo isso, dentro de uma caixa rústica, era ligado a fones de ouvido. Quem me despertou para esse interesse foi o seu Pedro Lappali, proprietário das Lojas Lappali, localizadas em frente ao Hospital Paciornick. Com essa brincadeira eu tentava alcançar as estações mais distantes e potentes. Era um desafio.

E o que o senhor gostava de ouvir nas estações de rádio?
Música. Música popular brasileira. Mas naquele tempo não se dizia música popular brasileira. Só brasileira. Eu gostava de ouvir Francisco Alves, Bidu Sayão, que era artista lírica, e outros cantores. As músicas dessa época eram lindas.

Aos 10 anos o senhor já começava a delinear o seu futuro...
Não. Eu não tinha outra pretensão do que a própria diversão, além de uma atração pelo invento, por causa dos meus estudos de Física, já quando cursava o ginásio no Colégio Santa Maria, dos irmãos maristas. Além disso, comecei a gostar de natação, nas primeiras aulas realizadas no tanque da Fazenda São João, comprada por meu pai, na legendária Lapa, onde passei dias felizes de minha infância e juventude. Também apreciava andar a cavalo, pela gostosa sensação de liberdade e de locomoção rápida.

Nessa época, quem eram os seus companheiros, os amigos?
Os meus irmãos eram os meus amigos e companheiros prediletos. Os de todas as horas. Da época de ginásio, no Colégio Santa Maria, apreciava muito a companhia de João Oliveira Peres, que morreu como procurador-geral do Estado de São Paulo; e de Milton Tesseroli, que chegou a ser diretor-presidente do Banco Chase Manhattan. Ele faleceu há poucos anos. Outro bom companheiro continua sendo o Francisco Lúcio Marchesini. Todos os três advogados e muito amigos.

O senhor fez o restante dos estudos no Colégio dos irmãos maristas?
Não. Eu queria ganhar um ano de estudos e fiz uma tentativa no Colégio Iguaçu. Mas voltei atrás e retornei ao Colégio Santa Maria. Depois, quando chegou o momento de cursar o pré ..., naquele tempo havia quatro anos de ginásio e três de pré, eu freqüentei aulas noturnas no Colégio Paranaense, onde estavam os melhores professores daquele tempo. Mas eu passei uma fase curta no Paranaense. E, no Santa Maria, onde estudei mais tempo, tive professores marcantes como o irmão Henrique, que ensinava com muita eficiência e era titular da turma, e o irmão Ruperto, que ministrava Física e Química.

O senhor foi um aluno bem-comportado?
A educação era bastante severa e nos divertíamos fazendo esportes, ginástica em barras e, também, jogando futebol.

O senhor ainda não tinha desistido do futebol...
É, ainda insistia um pouco no futebol. (rindo)

Qual o seu time do coração?
Sou torcedor atleticano. Sem fanatismo.

Ainda pratica esportes?
Eu trabalho muito. Das 9h30 até 21, 22 horas ou até mais tarde, o quanto for necessário. No início do jornal só voltava para casa de madrugada. Hoje, procuro reservar tempo para o esporte. Eu caminho muito. É caminhando que mantenho a minha forma física. Além disso, pratico diariamente tae kwon do. Sou presidente da Associação Paranaense de tae kwon do. No Paraná há mais de 3 mil associados e, no Brasil, são 20 mil.

E por falar em forma física, o senhor foi, e é, um homem bonito. Na sua juventude, bonito, cheio de ímpeto...
(Interrompendo a pergunta) Mas..., olhe... Nunca me considerei como tal.

Mas as pessoas o consideram...
Nessa fase aí, nunca me considerei atraente, boa pinta, ou qualquer coisa dessas... Na verdade, achava que os outros eram bonitos. Eles tinham cabelos pretos... Eu não tinha cabelos pretos. (risadas)

E as festas, quando surgiram em sua vida? Quais as melhores lembranças?
Na época dos estudos do pré começaram a surgir os convites para as festas de 15 anos. Eram a novidade. Eu não era sócio de clubes sociais e, então, as reuniões aconteciam nos aniversários das moças de famílias conhecidas. Eu aceitei uma grande quantidade de convites desse tipo.

Daí, o senhor começou a ser disputado pelas meninas?
Daí eu comecei a conhecer, ver e estudar. Mas eu nunca me considerei disputado. Nunca fui disputado... Eu acho até que faltou um pouco de disputa. (muitos risos)

Há algum evento importante nesta cidade, neste estado, que o senhor não tenha sido convidado?
Naquela época de que falávamos, deixei de ser convidado para muita festa em que eu quis ir. (risos) Aniversários muito comentados..., em muitos, eu não fui convidado. (risos) Entre os 17 e 18 anos comecei a ir a bailes de carnaval. Assistia a quase todos. Já frequentava o Clube Curitibano, a Sociedade Duque de Caxias e, de vez em quando, o Country Club. Eu me divertia bastante. Sem descuidar dos estudos, por influência proter (primeiro) do meu pai, que era juiz, fui prestar vestibular para Direito na Universidade Federal do Paraná. Mas eu estava em dúvida entre Direito e Medicina.

O senhor pensou em ser médico?
Sim. Os meus tios eram quase todos médicos. Quatro médicos. Eu sofria uma influência muito forte do meu avô e, em certo momento, aos 12 anos, passei a morar com ele. Eu lia muito para o meu avô, de jornais à literatura e livros de Medicina que, naquela época, eram franceses. Assim tive o meu interesse despertado para a medicina e para o idioma francês.

O senhor fala quantas línguas?
Francês, eu estudei na Aliança Francesa. Hoje, falo francês, inglês, espanhol e, claro, português. Idiomas que estudei no ginásio e, mais tarde, aperfeiçoei.

O senhor foi um aluno aplicado na universidade?
No primeiro ano, eu senti uma dificuldade muito grande nos estudos de Filosofia do Direito e Introdução à Ciência do Direito. Mas, no segundo ano, elaborei uma estratégia de estudos. Preparava apostilas de todas as matérias, anotava tudo o que os professores falavam e ensinavam nas aulas. As informações eram complementadas por meio de pesquisas em livros. Depois, imprimia tudo em mimeógrafo. Às vésperas das provas, eu as vendia aos colegas. (risos) Eram bastante procuradas. Eu ganhava um bom dinheiro com elas. Davam lucro e eu estudava profundamente as matérias ao preparar apostilas sem erros. Foi uma das formas mais eficientes e lucrativas de estudar. (risos) E, ao me formar, ganhei o Prêmio Brigadeiro Franco como o melhor aluno em Direito Civil. No último ano, ainda recebi um atestado por ter obtido as melhores notas em todas as matérias do quinto ano. Jamais vou esquecer as circunstâncias da minha colação de grau.

O que aconteceu?
Eu fui chamado para receber o Prêmio Brigadeiro Franco. Junto, ganhei um envelope contendo três notas de 500 mil réis. Notas verdes, grandes. Era um valor tão grande que já dava quase para montar o meu escritório de advocacia. O importante nisso é que a entrega do prêmio foi feita pelo meu pai, que estava compondo a mesa, representando o Tribunal de Justiça e também como presidente do Tribunal Regional Eleitoral, na época. O reitor fez questão de que eu recebesse o prêmio das mãos de meu pai. Foi uma emoção muito forte, para mim e para meu pai. Foi um dos melhores abraços que nós dois trocamos na vida.

Quando o senhor começou a advogar?
Antes mesmo de terminar o curso, abri um escritório de advocacia junto com outro colega, o João Severino de Oliveira Perez. Era um escritório de advocacia e de representações comerciais. O nome era Co-Jurídico. Na época, eu tive um apoio espontâneo muito importante, o do jornalista Roberto Barroso Filho. Ele me forneceu todo o material que possuía porque estava fechando o escritório dele. O Barroso me passou praticamente tudo, e com uma espontaneidade impressionante. Ele também me deu esclarecimentos de como deveria proceder. Foi um gesto muito generoso. Eu sempre me lembro do que o Roberto Barroso fez por mim e sou muito agradecido a ele.

Que representações havia no escritório?
Eu trabalhei com representações de sapatos, tênis e todos os produtos típicos do Nordeste. No escritório se fazia preparação de papéis de casamento, requerimentos de isenção de multas por falta de registros de nascimento, civis e de pequenas questões de locações. Eu ainda fiz um estágio no escritório do advogado Hélio Setti, atuando em todas as áreas. Depois de formado, montei o meu escritório de advocacia, desta vez, em parceria com o meu irmão Lincoln, que já estava concluindo o curso de Direito. Nesse momento, achei que deveria me impor como advogado e parti para a experiência do Tribunal do Júri. Minha estreia foi com o Salvador de Maio, um advogado famoso. O promotor era o Maranhão, que foi desembargador. Absolvemos o acusado. Foi a minha primeira vitória. Trabalhei em casos muito importantes, como o de Carolina Taborda Ribas, acusada de ter assassinado o namorado da filha. Neste caso, trabalhei na acusação. Mas eu prefiro defender. Fiz mais de cem júris, atuando na defesa. Trabalhei por quatro anos no processo que respondeu Moysés Lupion ao deixar o governo do Paraná. Na defesa dele também estavam o professor de Direito Penal Laertes Munhoz, e o ministro Evandro Lins e Silva. O Lupion foi absolvido. No Tribunal do Júri eu obtive bons rankings.

E a opção pela outra tribuna, a da imprensa?
Em 1962, junto com Edmundo Lemanski, comprei a Gazeta do Povo. O jornal estava em estado falimentar. Assumimos o passivo e todas as responsabilidades. Ao todo, eram 50 empregados. Alguns trabalharam na casa até a aposentadoria, há pouco tempo, como o Clóvis, o das Oficinas, e o D’Aquino, na Redação. Durante 15 anos advoguei nas mais diversas áreas, com ênfase na criminal. E por muito tempo fiquei dividido entre o direito e o jornalismo. Até fazer a opção final pelo jornalismo. Gostei do desafio a que me propus. Em sete anos pagamos todas as dívidas e, ainda, compramos o jornal Diário da Tarde, apenas para podermos ter uma rotativa. Naquela época, a importação era muito difícil e a rotativa veio facilitar e dar maior rapidez ao nosso trabalho.

Nota: Essa foi a última interrupção da entrevista. Depois deste encontro, Francisco Cunha Pereira Filho viajou para os Estados Unidos e a jornalista assinou um contrato de consultoria para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Tríplice Fronteira – Argentina/Brasil/Paraguai.

Antes de ambos viajarem, eles se falaram e marcaram o final da entrevista para o final de 2005. Antes que o ano terminasse, mais uma vez, “doutor Francisco” avisou que gostaria de concluir a entrevista, mas a jornalista deveria aguardar um pouco. Mesmo lamentando, a jornalista entendeu que a entrevista deveria parar aqui. Esta compreensão é a melhor homenagem que a jornalista pode render ao seu entrevistado.

Afinal, a história de Francisco Cunha Pereira Filho não tem fim, ela se esparge pelas notícias, fatos e imagens do dia-a-dia, pelas redações, estúdios, caminhos e descaminhos da imprensa deste estado e, ainda, ruas, praças, monumentos, e pelas muitas histórias de vida das pessoas. Em cada um de nós há um pouco de Francisco Cunha Pereira Filho, um patrimônio, um ícone da própria história do Paraná. Um ser humano ímpar, perene em nossa memória e coração.

Ave! doutor Francisco!




ADEUS, FRANCISCO CUNHA PEREIRA FILHO

Morreu, vítima de parada cardiorrespiratória,
na noite de 18 de março, às 23h55,
o jornalista Francisco Cunha Pereira Filho
diretor-presidente da Rede Paranaense de Comunicação - RPC
(Foto Divulgação)

O velório será realizado no salão principal da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com a realização da missa às 15h30. O enterro ocorrerá no final da tarde desta quinta-feira (19), no Cemitério Municipal. Horário ainda será confirmado.

Francisco Cunha Pereira Filho estava com 82 anos. Nascido a 7 de dezembro de 1926, era filho do desembargador Francisco Cunha Pereira e de Julinda. Foi casado com Terezinha Döring Cunha Pereira e pai dos filhos Francisco Cunha Pereira Neto, Guilherme Döring Cunha Pereira, Ana Amélia Cunha Pereira Filizola e Cristina Cunha Pereira.

Advogado e jornalista, formou-se em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), no ano de 1949. Foi professor da própria Faculdade de Direito da Federal e atuou como advogado.

De acordo com minibiografia veiculada pela Academia Paranaense de Letras – da qual é membro – lecionou na Universidade do Paraná como catedrático interino, nas cadeiras de Ciências das Finanças, Direito Internacional privado e Previdência Social, entre outros. Atuou no Tribunal do Júri e fez carreira como criminalista.

Ainda no campo do Direito, militou na OAB, seccional do Paraná, tendo sido presidente do Instituto dos Advogados do Paraná.

Em 1962, assumiu a direção do jornal Gazeta do Povo e, tempos depois, da TV Paranaense, canal 12, firmando-se como empresário do campo das comunicações.

“Um paranaense de nome Francisco”

A Gazeta do Povo apresenta nesta quinta-feira, 19 de março, o documento especial “Um paranaense de nome Francisco”. O especial transita pelos 60 anos de vida pública do advogado, empresário e jornalista Francisco Cunha Pereira Filho, morto neste dia 18 de março.

Em 1962, Cunha Pereira abandonou uma bem-sucedida carreira como criminalista para ingressar no jornalismo, em parceria com o sócio Edmundo Lemanski, com o qual compra a Gazeta do Povo - então um jornal com sérios problemas financeiros.

No mesmo ano, imprime seu estilo inconfundível: transforma as dependências da empresa num espaço de diálogo com as mais diversas lideranças paranaenses. Políticos, empresários, membros de associações e da toda sorte de iniciativas da sociedade organizada passaram a participar das célebres “visitas à redação”, nas quais apresentavam seus trabalhos e, comumente, empenhavam sua palavra em causas de interesse do estado.

Em paralelo, o próprio Cunha Pereira se tornou uma figura pública, participando semanalmente de inaugurações, congressos e eventos que, de alguma forma, colaborassem para a consolidação de uma sociedade de direito.

O imenso acervo de medalhas, diplomas e condecorações que recebeu o confirmam como cidadão em trânsito: foi reconhecido pela população de bairros empobrecidos, pelas irmandades da Santa Casa e pelos escalões do governo estadual e federal.

A maior marca de Cunha Pereira, no entanto, vai ser o lançamento de campanhas carimbadas com o selo da Gazeta do Povo e, logo em seguida, pelo Canal 12. Os temas passavam pelas grandes questões econômicas do Paraná – como a produção de energia elétrica, melhoria nos transportes e industrialização sustentável -, mas também por dilemas crônicos, como a pobreza, a violência e a fome.

Praticamente sem similares no jornalismo brasileiro, Cunha Pereira desenvolveu um jornalismo capaz de discutir, provocar e promover transformações profundas na vida brasileira. Feito um visionário, antecipou a crise energética, o colapso dos aeroportos e os riscos da monocultura. Seus editoriais – tornados célebres – alimentavam debates de longo alcance, abrindo mão do jornalismo sensacionalista, vazio de idéias e de propostas. No lugar, promoveu políticas públicas, quando essa expressão era privilégio de especialistas. Era um craque.

Além de catalogar pouco mais da metade das 30 campanhas de Cunha Pereira, o documento “Um paranaense de nome Francisco” mostra a rotina do homem que – quando as impressoras quebravam – vinha madrugada adentro, de roupão e pijama, dar apoio moral aos funcionários, para que o jornal chegasse às bancas no dia seguinte.

Quando não, era ele mesmo a visitar as bancas, para saber in loco como iam as vendas e o que diziam os leitores. Tinha estilo – um estilo reverenciado por seus colaboradores.

Nesta edição, impressores, jornalistas, técnicos – e até o humilde Zelão, que um dia lhe engraxou os sapatos e conseguiu um emprego – falam da convivência com o cidadão comum que “era dono da Gazeta do Povo”. Havia quem duvidasse ao vê-lo até empurrando um carro que não pegava, como conta seu barbeiro. Mais – o marido de Terezinha Döring fazia pipas para os filhos e rezava com eles ao Anjo da Guarda antes de dormir.
Era um prazer conhecê-lo. E é um prazer ainda maior saber que sua vida mudou os rumos da História do Paraná. Serviu de exemplo.

Sua alma, sua palma.

(Texto veiculado no Site da Rede Paranaense de Comunicação - RPC, nesta quinta-feira, 19.03.2009)

domingo, 15 de março de 2009

A RESSURREIÇÃO DE PIPOCA

Esta poderia ser a foto de Pipoca,
porque ela
é exatamente assim.

História curitibana, veiculada
no Blog do Zé Beto,
do Site Jornale,
contada pela jornalista Vania Mara Welte:

Nesta sexta-feira, 13, das 13h30 até quase 22 horas, “Pipoca”, uma cadelinha branca, da raça labradora, foi submetida a uma cirurgia inédita no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná. Pipoca teve a segunda vértebra, da coluna Cervical, praticamente despedaçada ao ser atropelada por um carro, dirigido por um “celerado” na Antiga Rodovia do Cerne. Exatamente no trecho povoado por muitas chácaras, onde vivem crianças, adultos e idosos. Pipoca ainda teve o corpo arrastado por mais 10 metros, para em seguida ser abandonada, sem qualquer socorro do agressor. Recolhida pelas pessoas que a abrigam, ela foi trazida para Curitiba em estado grave.

Para operá-la, os doutores e professores Alexandre Schemedek e Ricardo Vilani, mais o residente, médico veterinário, André Jair Casagrande, tiveram o acompanhamento de outros 20 residentes e estagiários. Na delicada cirurgia, de “Osteossíntese de Coluna Cervical", foi necessário o uso de um microscópico cirúrgico, alugado do próprio Hospital das Clínicas, a colocação de placas e parafusos, aliados à competência, ousadia e dedicação de toda a equipe para restaurar os movimentos do bichinho.

Sem contar, ainda, o longo período de anestesia, quando o cirurgião segura nas mãos a vida, em um pacto secreto com o próprio Deus. Pela manhã, a notícia: Pipoca resistiu, se recupera e até já comeu. “Acreditamos que ela voltará a andar”, disse Casagrande.

Em tempo: Pipoca foi a 11ª vítima, naquele trecho da Rodovia do Cerne, em menos de dois meses. A única que sobreviveu. A cadelinha escapou para a estrada, após se banhar nas águas do rio que margeia um bosque, dentro da propriedade em que vive.

sábado, 14 de março de 2009

A DANÇARINA NA PÁTRIA VIL

BRASIL
(www. trans-verso.zip.net)

Colaborador do blog do Zé Beto enviou o texto abaixo.
Conta: ”É de autoria de uma moça chamada
Clarice Zeitel Vianna Silva.
Estudante de Direito da Universidade Federal
do Rio de Janeiro e, verdade!,
dançarina do programa “Caldeirão do Huck”.
Disputou com outros 50 mil universitários
o concurso de redação
“Como Vencer a Pobreza e a Desigualdade”
promovido pela UNESCO.
Recebeu seu prêmio em Paris.
A redação de Clarice, “Pátria Madrasta Vil” ,
foi incluída num livro,
com outros cem textos selecionados no concurso.
A publicação está disponível
no site da Biblioteca Virtual da Unesco:



PÁTRIA MADRASTA VIL


por Clarice Zeitel Vianna Silva


Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência… Exagero de escassez… Contraditórios?? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.

Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.

O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.

Há quem diga que ‘dos filhos deste solo és mãe gentil.’, mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.

A minha mãe não ‘tapa o sol com a peneira’. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.

E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade.

Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade.

Uma segue a outra… Sem nenhuma contradição!

É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!

A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.

Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura.

As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)… Mas estão elas preparadas para isso?

Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.

Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?

Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos…

Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente… Ou como bicho?


(Veiculado pelo jornalista Zé Beto, em seu Blog, no Site Jornale, neste sábado, 14.03.2009)

sexta-feira, 13 de março de 2009

QUANDO MEU AVÔ MATOU COLLOR

Texto de Rogério Pereira,
publicado no jornal Rascunho
e veiculado no Blog de meu amigo,
jornalista Zé Beto, no Site Jornale



Sempre que vejo Collor (este ubíquo fantasma a me assombrar) - único presidente escarrado da boca podre que nos governa -, recordo-me de meu avô Sílvio, um homem de mãos imensas, dedos nodosos, esculpidos numa lida sem-fim. Há também uma mulher numa tevê a falar sobre poupança, dinheiro retido, confisco, ou coisa parecida. Naquela época, entendia muito pouco de dinheiro. Tínhamos quase nada. Tempos depois, compreendi que eles também entendiam muito pouco do nosso dinheiro. Mas, aí, já era tarde. Muito tarde.

A notícia chegou-me num dia de inverno no início da década de 1990. “Seu avô morreu: enforcou-se” é a frase que não me abandona. Acompanha-me como uma doença rumo ao túmulo. Naquela juventude, a morte me parecia algo muito distante; a imortalidade era-me possível entre carimbos e jornais na Gazeta Mercantil. Ali, a avalanche desceu das encostas e transformou-se em palavras na boca de um homem de nome Dias. Corri para casa para descobrir pela primeira vez os estragos que a morte é capaz de causar. Nunca mais os esqueci.

(Quando minha irmã morreu, dez anos depois de meu avô, escrevi em algum lugar: Ela [a morte] entrou em minha casa por todas as frestas, escancarou as janelas, varreu os ciscos para os cantos e, silenciosa - como quase sempre o faz -, sentou-se à mesa. Olhou-me nos olhos, virei o rosto, no desespero de espantá-la, de jogá-la na rua, para que tomasse outro caminho. Impossível, logo vi. Não partiria nunca mais. Ficaria como visita em dia de chuva. Sentada no sofá puído, perambulando entre a sala e os quartos, observando-nos nas noites mais do que maldormidas, cortando o resto da carne no prato de bordas gastas.

A morte acarinhou-me os cabelos no travesseiro. Ainda me faz companhia nas noites de chuva. Ouço sua voz entre os trovões. Nos relâmpagos, seu rosto ilumina-se. Já não a tememos. É um inimigo conhecido, por mais assustador que possa parecer. Sei que não partirá; sou uma pessoa resignada. Nem a rotina da vida - ora lenta, ora apressada, ora caduca - é capaz de espantá-la. Atracou-se a nossas vidas qual farpa sob a unha da mão delicada. É uma enxurrada lenta e silenciosa a varrer os vãos da casa. Não tem fim.

[...] A morte dói em partes desconhecidas do corpo. E quando voltar - há de voltar, sempre -, descobrirei tantas outras partes a doer.)


Minha mãe era um animal indefeso a grunhir no sofá destroçado num canto da cozinha. Sobre a napa velha, um pano tentava esconder os rombos que uma pobreza escancarava com facilidade. Não vi o seu rosto. Chegavam-me apenas os sons abafados por aquelas mãos imensas de minha mãe. Vi as mãos de meu avô Sílvio fincadas no rosto dela. Daquela boca, cujos dentes não lhe pertenciam, ouvia-se: “nunca mais vou ver meu paizinho”. O diminutivo infantil naquela boca soava-me estranho, deslocado. “Paizinho”? Mas ele era “velho”.

Minha mãe era “velha”. Não sei por que imaginava que minha mãe deveria compreender aquela morte. Ela nunca foi muito boa para entender a morte. Descobri por que sempre nos acharam muito parecidos. Meu irmão, com meu pai. Silenciei à espera de que a morte nos desse uma trégua. Nunca mais nos abandonou. Visita-nos de tempos em tempos, a desgraçada.

Pegou-me no colo. Eu era apenas um menino. Admirava-me aquela boina que levava com certo orgulho. Nada tinha de vaidoso. Acompanhava-o feito um amigo. Onde estará? Lembro-me da boina e dos olhos azuis, uma imensidão inesquecível. Uma das poucas vezes que nos visitara em C. Contava-me histórias. Todas de um mundo arcaico, de uma lavoura arcaica. Passara a vida entre o pasto de bois e as plantações. Era um nômade. Volta e meia carregava a família para um rincão daquela Santa Catarina que inventávamos a cada férias. Alegria visitar a nova morada do avô. Será que tem rio? A pergunta nos tirava o sono no ônibus que nos arrastava rumo a um novo mundo de descobertas. Era a volta a um útero que havíamos abandonado. Agora, éramos urbanos.

No prego, a boina à espera das mãos imensas. Ela o transformava em alguém que eu admirava. Talvez um Mastroianni desajeitado. Quando fui embora de C. por uns tempos, pude usar uma boina igual à do meu avô Sílvio. Ninguém a me dizer que aquilo não combinava comigo. Agora, espero a chegada da velhice para, enfim, resgatá-la. Um dia serei um Sílvio de boina a contar histórias aos netos. Ali, distante de C., quando a morte de meu avô acomodara-se no acúmulo das tristezas familiares, escrevi: “versos sobre a curiosidade: quando cheguei à praça, vi o homem enforcado balançar as pernas no vazio”. Sedimentada para sempre em mim a imensidão entre a sola dos sapatos e o chão um dia cultivado.

Nós, os católicos, condenamos ao fogo do inferno os suicidas. Mesmo que a Igreja, há algumas décadas, garanta que Deus já não é assim tão severo com aqueles que decidem destruir “o que de mais precioso” Ele nos deu. Depressão, tempos modernos, desespero. Suicídio. Seria muita injustiça aquelas imensas mãos de meu avô Sílvio a cumprimentar o diabo eternamente. E a boina queimaria?

Depois da morte, a vasta família de meu avô espalhou-se. Uns tornaram-se urbanos; outros teimam em cultivar a terra que assistiu ao corpo no vazio. Minha avó carrega a morte como as pedras no bolso de Virginia Woolf. Mas nunca entrará no rio. É forte demais para se deixar seduzir. Meu avô não foi seduzido, sempre soube. Foi arrastado feito um papel de bala pela enxurrada silenciosa e violenta. Vendera as terras, colocara o dinheiro na poupança que a mulher de voz rançosa na tevê jurava que logo seria devolvido. O logo, para meu avô, transformou-se em eternidade.

Collor voltou. Está por aí. Tem um site, em cuja página inicial lê-se “pátria amada Brasil”. Não usa mais gel, corre menos, não desfila de jet ski pelo lago, vai fazer 60 anos, dá muitas palestras, carrega a fama de ex-presidente (mesmo que escarrado), a esposa de roupas multicoloridas e sorriso dentuço não o afaga mais o ego, o irmão morreu, um pouco de poder ainda lhe resta como senador da República…

E sempre que o vejo, recordo-me de meu avô Sílvio e tenho mais certeza de que o inferno é aqui.

4 Comentários para “Quando meu avô matou Collor”

miriamk. Diz:
13 mar 2009 - 08:50

Muito, mas muito emocionante este texto do Rogério. Velho amigo, acho que nosso país é isso mesmo, o inferno na terra, mas seu imenso talento não pode ser desperdiçado pensando em Collor. Ele não vale um naquinho da unha do vovô Silvio, que, tenho certeza, está brincando com os anjos.

Na minha infância tinha vergonha do meu avô, com seu pito e seu cheiro peculiar, ainda mais sua guaiaca (cinto muito usado pelos gaúchos, tipo 1.001 utilidades, onde se colocava fumo, palha, binga, que seria o isqueiro e também o dinheirinho tão sofrido.

Quando me tornei homem, após 20 anos, claro que tem pessoas que nunca se tornam homens, porque o homem já nasce assim, comecei a ter admiração pelo velho, sua sabedoria, sua coragem, sua paciência, sua destreza, (fazia arreame de couro para montaria), sua forma de ver o mundo.

Fiquei encantado quando fui junto atender um vizinho que uma vaca tinha engolido uma laranja, juro que gargalhei por dentro quando ele colocou um rosário no pescoço do animal. a vaca na sua agonia tinha dobrado de tamanho no seu comprimento, ele como devoto de nossa Senhora Aparecida, disse alguma oração. Mas, em seguida, dobrou a manga da camisa e colocou o braço inteiro na boca do animal, retirando a fruta causadora de tanta agonia.

O animal saiu pulando não sei se de alívio ou agradecimento, mas ele meu avô, virou um herói na minha vida. Comecei a prestar mais atenção nas coisas que ele fazia e ficava muito orgulhoso quando estava passando e ouvia lá no interior de Cascavel “lá vai o neto do seo Ataíde”.

Que saudades de tanta inteligência, paciência, tolerância e ainda divertia a gente com seus causos, como era gostoso as prosas, (aula) com ele, tem muitas outras historias que me levam de encontro a ele, apesar de nos ter deixado á uns 20 anos, me sinto bem quando lembro de sua pessoa.

Como seria bom se todos tivessem uma pessoa como essa, procuro fazer do seu exemplo minha vida.

Marcelo Diz:
13 mar 2009 - 17:36

E impressionante como a imprensa, o povo e os políticos brasileiros aceitam ainda este homem e dão-lhe poder com tanta passividade. Vamos ainda pagar muito caro por este descuido. Horrível.Já ouvi muitas histórias como esta de gente ficando doente e se desesperando. Devo acrescentar a minha cara no chão e constrangimento já que eu fui dos caras pintadas a pedir pelo impeachment do Fernando Collor, o filhinho de papai inescrupuloso e bruto que tanto errou, roubou e nos indignou. Hoje nosso SENADOR posa de intelectual bronzeado.

É por isso que não tenho confiança em jovens políticos, eles não têm experiência e são facilmente manipuláveis, esse Collor acreditava ser um ídolo eterno da Nação Brasileira, mas na verdade era um mito criado pela imprensa descompromissada com a população, principalmente pela Rede Globo, que colocava e tirava presidentes, ministros ou quem quer que fosse contra aquela merda que ela representava, ou seja, o poder de uma classe rica que dominava e continua dominando a política brasileira. Collor já havia sido um péssimo prefeito de Maceió e ainda um pior Governador de Alagoas, mas tudo isso foi escondido da população brasileira que pouca politizada que é, não sabia que estava comprando gato por lebre.

Vania Mara Welte Diz:
13 mar 2009 - 23:14

Caro Rogério


O título de seu texto diz tudo. “Quando o meu avô matou Collor”.
Lamento pela sua perda.

Lamento pela perda coletiva de muitas vidas amadas, produtivas e lindas como a de seu Sílvio e de tanta gente de bem, anônima, que construía um país lindo, de sonhos, habitado por gente trabalhadora, generosa, talentosa e poética – como você -, apesar de todos os sofrimentos e violências.

Lamento, Rogério, pela perda de tantos sonhos e esperanças no Brasil…

Hoje, o que mais me espanta é ver acontecer tudo de novo, repetir os mesmos nomes e ver as mesmas lideranças…

No entanto, há algo que me assusta.

Ao olhar o rosto, de cada um desses que retornam ao cenário nacional, principalmente o de Collor, vejo apenas uma massa de carne, sem emoções, sem sentimentos, sem alma… Esses rostos me lembram zumbis!

Enquanto isso, Rogério, por seu intermédio, seu Sílvio passa a viver em minha memória e em meu coração. E, para onde eu for, seu Sílvio estará sempre comigo.

Grata.

domingo, 8 de março de 2009

CARTA AO CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE




Neste Dia Internacional da Mulher,
este Blog abre espaço a um "pai/mãe",
na luta por preservar o seu filho do coração
no Brasil, entre a sua família.
Em toda a questão,
o que deve prevalecer acima de tudo
são os direitos da criança
para o seu pleno desenvolvimento em saúde, harmonia e felicidade



Mesmo que já tenha me formado há mais de 10 anos na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica, escrevo essas linhas não como advogado militante mas como pai de duas amadas crianças, e viúvo aos 35 anos de idade. Tal razão justifica a maneira menos formal que minhas razões são apresentadas emocionadas já que não poderia funcionar como advogado sem emoção nem parte só com a razão.

Convivi e fui oficialmente casado com Bruna Bianchi Carneiro Ribeiro Lins e Silva por quatro anos e meio.

Bruna estudou Comunicação na PUC-Rio. Após se formar foi fazer seus cursos de pós-graduação e mestrado em Moda, exatamente em Milão, Itália. No fim do seu curso final, após uma longa temporada de quatro anos, conheceu um norte-americano de nome David George Goldman, que estava hospedado do mesmo edifício onde Bruna morava, e que ali se encontrava como modelo. Logo apos alguns meses de contato, começaram a namorar, no estilo namoro por distância, já que o norte-americano morava nos Estados Unidos da América, e não tinha disponibilidade nem era mais convidado para desfilar com tanta intensidade por conta da sua idade.

O namoro durou alguns meses. Durante este período Bruna viajou aos Estados Unidos e com seu namorado americano viajaram para o Canadá.

Dois meses depois de seu retorno para Milão, Bruna descobriu que estava grávida do namorado norte-americano, o que teria acontecido durante a viagem ao Canadá. Bruna anunciou o fato ao namorado e à família. Por mais que o contato entre os namorados eram raros diante da distância, e com a vontade de ser mãe se aflorando, resolveu Bruna abdicar da Europa e se mudou para New Jersey, nos Estados Unidos, com o objetivo de dar ao filho a chance de ter uma família.

Bruna, infelizmente, não poderia imaginar o sofrimento que estava por vir. Passo aqui a relatar fatos muito pessoais que só um marido ou pessoas muito próximas poderiam de fato saber.

O namoro que funcionara à distancia, até então, se tornou uma tragédia. O namorado, que viria a se tornar marido por conta da gravidez não mais tocava em sua mulher. Durante todo o período de gravidez, inclusive na lua-de-mel, que acontecera tardiamente, e com Bruna grávida, não houve qualquer relação intima entre o casal.

Durante os últimos três anos de vida em comum, Bruna dormia em quarto separado de seu ex-marido. Vivia angustiada, em profunda depressão, chorando diariamente. As brigas eram comuns e assistidas pelo pequeno Sean, nascido em 2000 nos EUA mas registrado no Consulado Brasileiro e no 1o Registro Civil de Pessoas Naturais do Rio de Janeiro.

Importante destacar que tal registro no Consulado Brasileiro ocorreu três meses após o nascimento de Sean, tornando-o cidadão brasileiro como todos nós, com todos os direitos e deveres de um cidadão nato, que quando completar a maioridade poderá optar por ser brasileiro ou americano. Até então permanecerá com ambas as nacionalidades, sem que uma se sobreponha a outra ou que ele seja mais brasileiro do que americano, e vice-versa.

David, nesta altura, e por conta da idade, não mais conseguia emprego e raramente conseguia algum dinheiro. Ficava em casa praticamente o dia todo, se preocupando em construir e consertar a casa. Bruna trabalhava o dia todo dando aulas de italiano em escolas primárias e era quem abastecia a casa com a alimentação e os custos gerais. Não obstante, e sabendo da situação, a família de Bruna auxiliava enviando dinheiro para que a família pudesse ter uma vida digna.

Até o seguro de saúde era pago por Bruna, já que seu ex-marido não auferia qualquer renda. Viviam num mundo de aparências, onde para alguns a vida era ótima, mas dentro de casa tudo era um inferno.

A situação chegou ao máximo no momento em que Sean, com quase completos quatro anos de idade, chamou sua avó materna, muito triste, para narrar que sua mãe não gostava dele porque ficava o dia todo fora de casa, e que quem gostava dele era seu pai, porque era ele quem o cuidava. Pediu para guardar o segredo. Perguntado quem teria dito tamanha barbaridade para uma criança, Sean respondeu que tinha sido David.

Estarrecida, a avó materna contou à filha o triste episódio. Bruna, que já se encontrava no Brasil com Sean, por conta de férias, decidiu terminar o casamento, que de fato já não existia há mais de quatro anos. Era infeliz, depressiva, tinha um marido vagabundo, que não desejava como mulher desde a gravidez, e se via obrigada a trabalhar o dia todo para exclusivamente sustentar a casa.

Decidiu não mais retornar aos EUA e terminar seu infeliz casamento. Ligou para seu ex-marido, disse que estava infeliz, que não queria mais retornar, ofereceu-lhe passagem para vir imediatamente ao Brasil para conversarem e resolverem suas vidas. Nada aconteceu. O americano recusou as passagens, a estadia, e disse que no Brasil não pisaria. Bruna, não restando outra alternativa, procurou informações com um advogado especializado para saber sobre sua situação. Imediatamente, e ainda durante o prazo autorizado pelo americano para Bruna aqui ficar em conjunto com seu filho, requereu perante a Justiça Brasileira a guarda provisória de Sean, que foi prontamente concedida.

O americano, por sua vez, não mais se interessou em conversar com Bruna amigavelmente. Procurou um escritório de São Paulo e através dos mesmos ingressou, meses apos a vinda de Bruna, com uma ação alegando sequestro internacional!! Como se a mãe pudesse pedir resgate ou estar em lugar não sabido. O teórico resgate viria sim, mas de uma forma inversa, como será narrado em breve.

Neste processo perante a Vara de Família da Comarca do Rio de Janeiro, o americano devidamente contestou o pedido. Perdeu em 1a Instância e recorreu ao Tribunal Estadual. Novamente foi infeliz. Tentou um recurso ao STJ, onde não foi aceito e não mais recorreu, fazendo com que o processo transitasse em julgado. No processo em curso perante a Vara Federal, onde é autor o americano, este mesmo perdeu em 1a Instância, em 2a Instância e novamente o fato se repetiu perante o Superior Tribunal de Justiça, onde se entendeu que antes de qualquer lei prevalece o maior interesse do menor, e neste caso, era que ficasse no Brasil e com sua mãe.

Neste momento é importante abrir um espaço.

Reencontrei Bruna por uma amiga comum dos tempos de faculdade, logo apos o seu retorno dos EUA. Nesta época eu me encontrava separado do meu primeiro casamento.

Tivemos histórias semelhantes, não fomos felizes nos nossos casamentos por alguns motivos muito parecidos, e talvez pela experiência de vida entendíamos muito bem um ao outro.

Em menos de seis meses após nosso reencontro já estávamos morando juntos. E nunca imaginei o quanto poderia ser feliz como fui ao lado de Bruna. Por alguma razão que pode ser explicada, a vida nos colocou ao lado por três vezes, sem que nas duas primeiras pudéssemos ficar juntos de fato. A última tivemos a certeza que éramos feitos para ficar juntos para sempre. Bruna me dizia a todo tempo que eu era o “marido que ela escolheu”. Namorávamos o tempo todo e nunca houve um momento de tristeza. Sean tinha uma participação mais do que especial em nossas vidas. Desde nosso primeiro contato fizemos de forma que ele aceitasse a situação. Foi ele quem trouxe o primeiro presente de Dia dos Namorados para mim, espontaneamente.

Meu relacionamento com Bruna nunca ficaria acima ou seria comparado ao relacionamento entre mãe e filho, por isso administrávamos da melhor forma possível pensando no bem-estar de Sean. Nosso envolvimento como família era tão grande e tão natural que Sean passou a me chamar de PAI. Foi desejo dele, particular, e com muito orgulho e carinho recebi esse presente. Nossa relação, independentemente da nomenclatura, funcionava como pai e filho: sempre participei de todas as reuniões de pais na escola, fazíamos juntos os deveres de casa, colocava para dormir, atos comuns entre pais e filhos.

E fazia por amor. Sean é o filho que não tive do meu primeiro casamento. Nossa relação sempre foi muito forte, de conversa, de carinho, de ensino, de orientação, apoio e proteção.

Desde o primeiro dia que ficamos juntos e optamos em constituir uma família, se tornou minha exclusiva obrigação custear minha família. Me tornei responsável pelo pagamento dos custos de empregada, alimentação, moradia, estudo e lazer. Viajávamos sempre. Sean pôde conhecer a Europa do meu lado, e se encantar por Paris e a EuroDisney.

Tivemos por longos quatro anos e meio a melhor família do mundo, onde tudo era carinho, afago, respeito. Nunca houve uma briga, um choro, um momento de tristeza.

Bruna, que também registrara seu casamento norte-americano no Brasil, requereu o divórcio perante a Justiça Brasileira, ato em de acordo com a legislação. O americano foi formalmente citado por um Oficial de Justiça em Brasília. Bruna se divorciou e permitiu que finalmente pudéssemos nos casar oficialmente. Nosso casamento ocorreu no dia 1 de setembro de 2007. Na ocasião, assinaram a certidão de casamento a Bruna, eu, as testemunhas, como manda a lei, e, num ato puro de espontaneidade, Sean também pediu para assinar, fato que muito nos comoveu, e que está na certidão do cartório bem como comprovada pelas fotos da ocasião. Sean, ali, atestava e aprovava nossa união.

Quatro meses após o casamento, Bruna novamente engravidou. Eu gostaria muito que tivesse sido antes, mas ela questionava, dizendo que dessa vez gostaria de estar grávida após casar formalmente, para não acharem que ela só casava quando engravidava.

Bruna teve uma gravidez perfeita, sem qualquer problema aparente. Sean acompanhou o crescimento da barriga da mãe diariamente. Ficamos muito felizes com a notícia de ser uma menina.

Com todo o seu talento, Bruna se tornou empresaria da moda infanto-juvenil e abriu um negocio de muito sucesso, uma loja para meninas chamada BISI. O sonho de ter uma menina se concretizava e ela dizia que faria as roupas pensando na filha. Em quatro anos montamos quatro lojas nos melhores pontos do Rio de Janeiro.

Programada para nascer dia 21 de agosto de 2008, Chiara resolveu nascer no dia. O parto aparentemente ocorreu sem problemas. Infelizmente ocorreram complicações e falhas que não merecem destaque neste momento. Minha amada Bruna, minha vida, e mãe dos meus filhos, faleceu na madrugada do dia 22 de agosto, horas apos dar à luz a nossa filha Chiara. Me deixou com os dois maiores presentes da vida: Sean e Chiara. Bruna faleceu com 34 anos.

Sean – CIDADÃO BRASILEIRO – encontra-se no Brasil desde junho de 2004. Encontra-se no Brasil mais tempo do que viveu fora, sem levar em conta o tempo quando é muito bebê e ainda não tem tanta referência. Sean encontra-se sob meus cuidados desde meados de janeiro de 2005, numa relação de pai e filho. Fala, hoje, muito pouco de inglês, e reconhece sua família – seu apoio e núcleo familiar – em mim como seu pai afetivo e sua irmã, maior referência biológica da mãe.

Durante todos esses anos, o norte-americano não nos procurou um dia sequer. No primeiro ano de permanência no Brasil, ligou para Sean raras vezes, talvez duas, em datas como aniversário e Natal. Nos últimos dois aniversários, Sean não recebeu nenhum telefonema, sendo que em 2007 e 2008 não recebemos qualquer contato por telefone.

Se limitava nos primeiros dois anos a enviar emails para a conta de minha mulher, em inglês, para uma criança que ainda nem estava alfabetizada em português. Recebemos umas duas vezes alguns presentes, enviados pela avó paterna, com simples carta assinada pela avó, exclusivamente.

Durante todo o tempo o americano diz ter estado no Brasil quatro ou cinco vezes. Em nenhuma dessas ocasiões nos procurou, formalmente ou informalmente. Nunca requereu visita através da Justiça, apesar de ter contestado o pedido de guarda, de ter tomado a iniciativa judicial no Brasil. De fato soubemos da presença dele por conta de nossos advogados, que com ele estiveram no dia de julgamento.

Soubemos também que ele esteve presente nos tribunais procurando fazer lobby com alguns desembargadores. Repito: em nenhum momento ao menos ligou para nossa casa avisando que aqui se encontrava. Preferiu visitar os julgadores a Sean.

Logo apos o falecimento da minha amada mulher, tomei a iniciativa judicial requerendo a guarda provisória de Sean, com quem já cuidava e mantinha relacionamento de pai – filho há mais de quatro anos. Recebi a guarda provisória após concordância do Ministério Público Estadual a meu favor. Infelizmente não pude imaginar o que estava por vir. Logo apos a missa de sétimo dia de Bruna, recebi a notícia de que o americano se encontrava no Brasil, e que teria feito contato através dos advogados.

Minha pergunta: TERIA ELE APARECIDO SE BRUNA NÃO TIVESSE MORRIDO??? Pelo histórico é lógico que não.

Mesmo sem ter feito um contato visual nos últimos quatro anos e meio, resolveu procurar o filho biológico. O pedido foi feito através do Juízo de família, que, por experiência e acompanhando o entendimento do Ministério Público negou a visita, temporariamente, tendo em vista o momento de dor da família e sua ausência depois de tantos anos. Entendeu que tal visita deveria ocorrer apos estudos sociais e psicológicos, tudo em prol do interesse de Sean. Após essa decisão judicial, nossa vida se tornou um inferno.

Tal americano contratou, através de seus advogados, uma assessoria de imprensa, apesar do processo todo correr em segredo de Justiça. Começou a divulgar uma versão mentirosa à imprensa brasileira, como se a vida nos EUA tivesse sido um conto de fadas. Divulgou que teria vindo inúmeras vezes ao Brasil e que a “família teria impedido o acesso”. Chamou a Bruna de bígama, de adultera, de sequestradora de criança – mesmo apos sucessivos julgamentos – e sem que a própria Bruna pudesse ao menos se defender. Divulgou uma carta na internet onde acusava a Justiça brasileira de corrupta, que teríamos pago todos os julgadores, e que nossos tribunais não mereciam crédito. Tremendo absurdo!

Não é só isso. No retorno aos EUA procurou a imprensa de seu país. Divulgou a matéria toda, deu entrevista contando sua versão mentirosa dos fatos. Divulgou meu nome e de minha família, me chamando de sequestrador de criança. Criou um site na internet onde divulga sua versão, existindo um link para onde as pessoas têm acesso ao meu email e do meu pai e que a partir dali podem me escrever me caluniando.

Recebi centenas de emails, me mandando queimar no inferno, que sou bandido. Juntamente com o link, apresentou uma série de emails da Embaixada Brasileira, dos tribunais, do Poder Executivo, fazendo pressão através da opinião pública americana para que tomassem providências políticas contra mim e contra minha família, tendo como pretexto o retorno de Sean aos EUA, após quatro anos e meio sem nada fazer.
SE NÃO BASTASSE, O AMERICANO PEDE EM SEU SITE DOAÇÕES FINANCEIRAS ONDE SE ACEITA TODOS OS CARTÕES DE CRÉDITO!!!

Se não bastasse criou produtos com o rosto de Sean ainda aos dois anos de idade que serve para estampar canecas, aventais de cozinha, camisetas de todos os modelos com dizeres que o Brasil não cumpre a lei, que Sean quer voltar ao pais dele etc, fatos completamente absurdos e apelativos que servem como ganha-pão para sustentar o americano que não tem emprego. Importante mencionar que ele diz nunca ligar porque supostamente a família não aceitaria ligações a cobrar. Como pode então querer sustentar uma criança que pouco se lembra de seu passado americano, se nem dinheiro tem para ligar para seu filho biológico?

Alem disso, entrou no Orkut, comunidade da internet comum entre os jovens brasileiros, e na comunidade criada por crianças que apreciam a loja de minha mulher, começou a divulgar vídeos e fotos acusando a Bruna de sequestradora, enviando tais documentos para CRIANÇAS brasileiras, sem medir as consequências ou avaliar a gravidade de seu ato!

Repare que se estivesse realmente sofrendo ou interessado não teria começado a gritar quatro anos e meio depois. Teria feito na semana seguinte da vinda de Bruna ao Brasil!!!

O americano aparenta cheio de boas intenções. Porém não divulga à imprensa brasileira, nem à do seu país, nem muito menos no seu site, que ACUSOU MEUS SOGROS DE CONIVENTES COM UM SUPOSTO SEQUESTRO INTERNACIONAL, EM AÇÃO MOVIDA NOS ESTADOS UNIDOS, E QUE LÁ REALIZOU UM ACORDO PERANTE O JUÍZO ONDE RETIROU A RECLAMAÇÃO PELA LINDA CIFRA DE US$150.000,00 (CENTO E CINQUENTA MIL DÓLARES)!!! Tudo devidamente homologado perante um Juiz americano!

Repito: teria aparecido o sujeito se Bruna não tivesse morrido??? NUNCA!!! Veio porque sentiu cheiro de dinheiro, tendo em vista a eventual herança que poderá Sean receber.

É importante destacar que durante todos esses quatro anos e meio o americano não nos enviou UM CENTAVO SEQUER. Todo o custo de Sean foi bancado por mim e por Bruna. Não tomamos a iniciativa de cobrar alimentos, não há qualquer ação deste tipo. Como também não há qualquer ação visando e requerendo visitar Sean. Então porque depois de quatro anos e meio??? Só porque a Bruna morreu? Não ficou satisfeito com o acordo?

O americano também não diz que mora numa casa que foi comprada com dinheiro da Bruna. Vive em teto que não é só dele gratuitamente. Não conta que falsificou a assinatura de Bruna em vários cheques da conta corrente para ter acesso ao dinheiro por ela deixado quando retornou ao Brasil. Nada disso divulga. Muito pelo contrário, faz cara de triste, de pai biológico prejudicado. Infelizmente sua atuação comoveu o governo americano, que começou a pressionar o Autoridade Central Brasileira. Motivada por razões que desconheço, a Secretaria de Direitos Humanos do MEU PAÍS forçou a União, através da Advocacia Geral da União, que é sustentada pelo nossos impostos, que tomasse uma iniciativa judicial.

Hoje sou RÉU DE UM PROCESSO MOVIDO CONTRA A UNIÃO ONDE SE PLEITEIA O RETORNO DE SEAN E VISITAÇÃO EM FAVOR DE UM NORTE-AMERICANO!!!!! Mesmo que o pedido tenha sido feito perante o Juízo de Família e mesmo que o pedido de retorno se repete, cujo mérito já foi julgado pelo STJ!!! A União pleiteia um direito em favor PARTICULAR de UM AMERICANO CONTRA UM BRASILEIRO que vem sendo massacrado pela imprensa, que não dorme com calma, que se vê obrigado a requerer à Justiça liminares para que o assunto não seja mais divulgado mesmo que esteja protegido pelo segredo de Justiça.

Meu país não pode agir contra um VERDADEIRO PAI BRASILEIRO, A PONTO DE INTERCEDER NUM ASSUNTO COMPLETAMENTE PARTICULAR.

A QUE PONTOS CHEGAMOS???? ESTAMOS ENTÃO SUJEITOS AO INTERESSE ESTRANGEIRO ACIMA, INCLUSIVE DE DECISÕES DOS NOSSOS TRIBUNAIS?

TERIA EU O MESMO TRATAMENTO SE O FATO OCORRESSE NOS EUA? Me sinto completamente desamparado. O americano, neste momento, deve estar criando artimanhas políticas para prejudicar minha família, pessoa esta que não deveria receber qualquer crédito por ter sido completamente ausente. Fazer o filho é bom, mas se responsabilizar pelo cuidado e educação requer mais do que dedicação, e meu amor por Sean não se diferencia do amor que sinto pela pequena Chiara.

A Bruna era muito querida. Quando faleceu tivemos uma página de jornal com o anúncio de sua missa. Em seu enterro, que não fora divulgado na imprensa, tivemos do nosso lado mais de mil amigos. Bruna sempre acreditou no Brasil e aqui fez sua verdadeira família. Nesta situação nossos tribunais entenderam que o bem para o Sean era permanecer aqui.

Sean hoje tem uma irmã biológica, e a União, pressionada ou não, parece querer esquecer a decisão de nossa máxima Corte e, por conta do falecimento da Bruna, pleitear com base em sequestro, o retorno de Sean aos EUA, depois de estar ele mais tempo no Brasil. Esquecem que Sean é BRASILEIRO!!! QUE MESMO QUE NÃO TENHA NASCIDO NESTA TERRA QUERIDA, AMA SEU BRASIL COMO POUCOS. Não por nossa culpa perdeu o vínculo com os EUA. Não por nosso descuido, não por nossa ausência. Não podemos agora nos tornar réus, acusados de sermos sequestradores, de irmos de encontro aos interesses de um norte-americano.

Onde chegamos????? O quanto Sean é mais americano do que brasileiro?? Ou será que é melhor ser americano?? Até quando pressões políticas servirão de pretexto para a AGU tomar iniciativa em favor de interesses particulares de um gringo contra uma LEGÍTIMA FAMÍLIA BRASILEIRA???

Sean, desde o falecimento da mãe, recebe acompanhamento psicológico para auxiliá-lo no momento difícil. A psicóloga Maria Helena Bartolo sempre foi categórica em afirmar que Sean, por falta de iniciativa do pai biológico, perdeu a referência de seu passado americano, por não mais praticar a língua e por ter vindo muito novo para o Brasil. Sean chegou após recém-completar quatro anos. Se levarmos em conta que a criança tem pouca ou nenhuma lembrança de seus primeiro anos de vida, é claro entender que Sean não consiga se lembrar de fatos e pessoas – mesmo que parentes – dos EUA.

Segundo a psicóloga, sua lembrança formal é da mãe ao meu lado, num lar feliz e agradável. Sean viveu ao meu lado praticamente 60% de sua vida, visto que completará em maio nove anos de idade, mais tempo do que nos EUA. Quando questionado sobre sua vida nos EUA, se lembra de pequenos detalhes, incluindo discussões e brigas que ocorriam com frequência por causa de um casamento falido.

É importante reforçar que eu, como pai sócio-afetivo, só tenho interesse no bem-estar do meu filho Sean, nada mais do que isso. É massacrante ver sua imagem inocente em canecas vendidas pela internet onde a receita não se sabe para onde vai. A figura de Sean é exposta inconseqüentente ao mundo, sem que meçam o mal que isso pode trazer a uma criança em desenvolvimento. O segredo de Justiça é desrespeitado diariamente, tendo em vista as fotos e colocações jogadas na mídia sem qualquer critério, com o único fim de gerar polêmica e vender jornal.

Qual o objetivo de todos esses ataques contra sua família brasileira? Nunca houve intenção de impedir o contato e o convívio saudável. Tanto que na primeira oportunidade ocorrida recentemente, eu, como guardião, ofereci a visita já ocorrida. A psicóloga de Sean pode testemunhar o fato, e narrou que Sean se mostrou curioso, mas, após algumas horas, desconfortável. Repete em suas sessões que quer ter uma vida normal, sem aflições ou riscos de ser levado do Brasil sem que seja ouvido, que quer ficar com seu pai afetivo que tanto ama e ao lado de sua irmã, maior referência de sua falecida mãe.

Obviamente que não se nega nem demonstra interesse em não manter contato com o pai biológico, mas que seja de forma equilibrada e saudável. Porém, existe um real temor da família, por conta de pressões políticas norte-americanas, via Consulado, para que o interesse do menor seja colocado em segundo plano. Pouco importa se o pai biológico ficou ausente por cinco anos. Pouco importa se Sean tem uma irmã biológica. Pouco importa se ele aqui é amado e quer permanecer no local onde considera como casa, onde freqüenta a escola.

Pouco importa que é BRASILEIRO.

Estamos efetivamente correndo o risco de ver nossa lei máxima que respeita, antes de tudo, o maior interesse do menor, ser violada, rasgada, jogada por terra por interesses políticos norte-americanos. Querem usar este menino como exemplo. Exemplo de quê? Não basta ter se tornado órfão aos 8 anos, e agora, ficar na iminência de ser retirado de sua casa, de seu lar, do convívio com quem reconhece e quem o cuida há cinco anos, do convívio diário com sua irmã que tanto ama, se seus avós, tios e amigos?? Onde fica o maior interesse do menor??? Ou se trata do maior interesse dos EUA, do Embaixador americano, de Hillary Clinton?

Nem ao menos sabemos se a versão contada fora do Brasil é verdadeira. Os fatos são inúmeros e aqui temos milhões de papéis que provam, infelizmente, o caráter do pai biológico que nunca teve emprego fixo e foi sustentado por minha mulher durante os anos de casamento. Se utilizando da falta do segredo de Justiça nos EUA se vende como um coitado, quando na verdade o único verdadeiramente penalizado nessa historia é Sean, que está no risco de perder tudo aquilo que realmente o faz se sentir seguro. Sean nem ao menos fala inglês com segurança ou fluência como tentam apresentar!!!

Com muito medo e no sentido de evitar que os direitos e interesses de um filho sejam efetivamente e grosseiramente violados, é que um pai sócio afetivo – que não fugiu de sua responsabilidade de sustentar um criança pela maior parte de sua vida única e exclusivamente por AMOR – clama à este Conselho para que analise e proteja os direitos de uma criança brasileira que já sofreu o bastante, e que hoje vive angustiada e sofrendo um jogo político internacional nefasto e inconsequente – cujos interesses políticos estrangeiros parecem estar acima da nossa lei, e se não bastasse, acima do interesse maior de uma criança brasileira, ÚNICA VITIMA, que virá a sofrer sérias consequências emocionais, caso não haja intervenção deste órgão.


Rio de Janeiro, 05 de março de 2009


João Paulo Lins e Silva
OAB/RJ 94728
(Texto transcrito do Jornal Globo on-line)

domingo, 1 de março de 2009

O CARNAVAL ACABOU, A ALEGRIA CONTINUA...

Estas são as minhas amadas amigas jornalistas
do Rio de Janeiro.
Elas criaram um Bloco de Carnaval.
O título, nada mais carioca e safadinho:
"Vem ni mim que sou facinha."
Acredite!
Conheço cada uma dessas belas e feras.
Me engana que eu gosto.

Da esquerda para a direita, as jornalistas:
Katy Navarro, Sandra Ney,
Emília Ferraz (que levou a maior cantada
do grande maestro Tom Jobim,
durante uma entrevista com ele,
que eu editei e coloquei no ar.
Afinal, foi uma cantada ontológica.
Merecia ser vista em Rede Nacional. E foi.)
Denise Barreto (a presidente do Bloco),
Angélica Coutinho e ao fundo,
atrás de Angélica, o simpático e também querido Lauro,
marido de Katy Navarro.

Adorei a foto.
Gratíssima, meninas.
Vocês estão ótimas!
À vocês, e aos 444 anos do Rio de Janeiro,
a minha homenagem
com a letra deste samba enredo
da época em que eu trabalhava
com esta equipe de feras do jornalismo,
no Rio de Janeiro.

Ô esquindô! Esquindô!
Saudades imensas de vocês.
Aos bons tempos...



DE BAR EM BAR


Didi um Poeta(Comp.: Franco)
União da Ilha – Rio de Janeiro / 1991

Hoje eu vou tomar um porre
Não me socorre que eu tô feliz
Nessa eu vou de bar em bar
Beber a vida que eu sempre

Hoje eu vou tomar um porre
Não me socorre que eu tô feliz
Nessa eu vou de bar em bar
Beber a vida que eu sempre quis

E no bar da ilusão eu chego
É pura paixão que eu bebo
Amor me deseja, me dá um chamego
Me beija e me faz um cafuné

Bebo vem e bebo vai
Que nem maré
Balança mais não cai
Boêmio é

Garçom! Garçom!
Bota uma cerva bem geladaaqui na mesa
Que bom! Que bom!
Minha alegria deu um porre na tristeza

Poeta, enredo da canção
Cartilha que eu aprendi
Canta Ilha de emoção
Saudades de você, Didi
Amor! Amor! Eu vou

É nessa aqui que eu vou
O sol vai renascer o meu astral
Amor! Amor! Eu vou
Ô esquindô! Esquindô!
Num gole eu faço um carnaval