sábado, 25 de dezembro de 2010

FELIZ 2011 !

É tempo de recomeço,
de luzes, de limpar gavetas,
de curar feridas, esquecer cicatrizes,
guardar lembranças boas,
curtir a família, o grande amor,
olhar a beleza que há em volta,
abraçar amigos,
aproveitar a vida ao máximo e em felicidade plena.

Afinal, há um Novo Ano!


Feliz 2011!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

BOAS FESTAS


Espero que, desta vez,
o Papai Noel
seja compreensivo, tolerante, competente,
eficaz, eficiente e ágil.

E prometo me contentar só com esses singelos pedidos.

VMW

FELIZ NATAL !

E UM FANTÁSTICO 2011 !

PARA VOCÊ E SUA FAMÍLIA!


domingo, 5 de dezembro de 2010

AMB - SOB NOVA DIREÇÃO

Desembargador Henrique Nelson Calandra,
presidente eleito para a Associação
dos Magistrados Brasileiros (AMB),
em foto de Pedro Serápio,
do Jornal Gazeta do Povo

A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) elegeu, na última sexta-feira, seu novo presidente: o desembargador Henrique Nelson Calandra (foto acima), do Tribunal de Justiça de São Paulo. Calandra encabeçou a chapa Novos Rumos, que venceu por uma margem de cerca de 5% a chapa AMB com Você, comandada pelo juiz maranhense Gervásio Santos. A nova diretoria eleita, que ficará à frente da AMB durante o triênio 2011 / 2013, tomará posse no dia 16 de dezembro. “O Bra¬¬sil precisa de um Judiciário de cabeça erguida. O Brasil precisa de um Judiciário independente. É esta a nossa luta: resgatar a auto-estima dos magistrados, que está depositada lá no fundo do baú. Vamos abrir esse baú, mostrar a verdade, mostrar que o juiz e a juíza brasileira são gente que faz”, disse Calandra, que substituirá na presidência da AMB o juiz pernambucano Mozart Valadares Pires.


(Texto extraído do Jornal Gazeta do Povo, veiculado na sexta-feira, 03.12.2010)

sábado, 4 de dezembro de 2010

A JOVENS EXEMPLARES


 

Aos meus amigos, amigas e colegas do Curso de Direito
do Centro Universitário Campos de Andrade – Uniandrade –
que venceram mais uma etapa de estudos pesados,
dedico o texto abaixo para reflexão e
também porque reconheço, aqui,
uma turma coesa, guerreira e
disposta a absorver todo o saber possível.

Eis aqui uma turma ímpar.
É feita de jovens e nem tão jovens,
cada qual com a sua trajetória de vida.
Pessoas íntegras, que trabalham, lutam e,
mesmo cansadas e exaustas, estudam
em período noturno para, um dia, fazerem a diferença.

Parabéns a todos!
São vencedores!
Boas férias!

Tenham excelente descanso.
Mas sem nunca abdicar, como Sócrates,
de suas próprias convicções e sem jamais se deixar corromper.
Abraços fraternos;

Vania Mara Welte



DISCURSO DE SÓCRATES EM SUA DEFESA


"Sócrates é uma dessas figuras imperecíveis da história, que vai além de sua vida terrena e se torna um símbolo à humanidade.

O homem de carne e osso, o cidadão ateniense, nasceu no ano de 469 a.C.

Sócrates foi condenado à morte, bebendo cicuta, no ano de 399 a.C.

Ele criou, em torno de si, uma escola (no sentido intelectual e não material do termo) a qual acorriam os jovens atenienses que se interessavam pela busca do conhecimento filosófico. Um destes jovens era Platão, seu principal discípulo, e a quem devemos o registro escrito do pensamento de Sócrates: Os Diálogos.

Filho de uma parteira, associam o seu método de pensar e ensinar, ao processo de parto: ajudar a natureza a dar a luz à criança.

Sua forma de ensinar, pelo constante questionamento das afirmações e da busca do seu significado, a partir de indagações intelectualmente provocadoras, equivalia ao processo de ajudar a natureza do discípulo (sua mente) a extrair, de dentro de si mesmo, o conhecimento verdadeiro.

Em outras palavras, “um parto espiritual”. Trata-se da maiêutica Socrática.

Sócrates ensinava pelo uso da palavra falada. Não deixou nada escrito. Seus discípulos, sobretudo Platão fez isso, ao expor e desenvolver as idéias do mestre. Sócrates foi imortalizado pela obra de Platão, e por sua morte resultante de julgamento público, pela acusação de:

“Corromper as mentes dos jovens e acreditar em deuses de sua própria invenção, ao invés dos deuses reconhecidos pelo estado”

É no diálogo platônico denominado Apologia, transcrição da defesa de Sócrates, que se encontra uma detalhada descrição da forma como vivia e das convicções que possuía.

A morte de Sócrates causou uma marca profunda em todos os seus discípulos porque, ao rejeitar qualquer concessão ou acordo, deu o exemplo pessoal, confirmado por sua morte, de um pensador que levava a coerência intelectual tão a sério que estava disposto a morrer, para dela não abdicar.

Conta-se que Aristóteles (que foi discípulo de Platão) estando para ser preso em Atenas, fugiu da cidade. Questionado por sua atitude, totalmente oposta à de Sócrates, ele teria respondido:

- Não vou permitir que se cometa um segundo crime contra a filosofia.

O trecho do discurso de defesa, transcrito aqui, foi, então, extraído da Apologia.

Nele, as palavras com que aceita a condenação à morte, são em si mesmas a maior evidência da sua grandeza ética e do seu gênio.

Pelas circunstâncias da morte (sacrifício imposto por sua própria consciência), assim como pelos diálogos platônicos, onde seu pensamento é exposto por ninguém menos que o genial Platão, Sócrates permanece, de 469 a.C. aos nossos dias, o alicerce sobre o qual se edificou, ao longo dos séculos, o edifício da cultura ocidental.

Sócrates era um pensador que levava a coerência intelectual tão a sério que estava disposto a morrer, para dela não abdicar."

O DISCURSO


“Bem cavalheiros, em troca de uma pequena economia de tempo, vocês vão ganhar a reputação e a culpa, da parte daqueles que desejam desprestigiar nossa cidade, de ter imposto a morte a Sócrates, aquele ‘sábio homem’. Por que essas pessoas que querem vos difamar, vão dizer que eu sou um sábio, ainda que eu não o seja.

Se tivessem esperado um pouco mais, conseguiriam o que querem pelo curso natural das coisas. Vocês podem ver que estou avançado em anos de vida, e próximo da morte. Digo isso não para todos vocês, mas sim para os que votaram pela minha execução, e eu ainda tenho algo mais a dizer a eles.

Sem dúvida pensais que fui condenado por falta daqueles argumentos que eu poderia ter usado, se eu pensasse que era justo não deixar nada por dizer ou por fazer, para garantir a minha absolvição.

Nada mais distante da verdade. Não foi a falta de argumentos que causou a minha condenação, e sim a desfaçatez, a ousadia e a falta de pudor dos meus julgadores, assim como o fato de que me recusei a dirigir-me a vocês da maneira que mais prazer lhes daria.

Eles gostariam de ouvir meu choro e meus lamentos, fazendo e dizendo todo o tipo de coisas que eu considero indignas de mim, mas que vocês estão habituados a ouvir de outras pessoas. Mas eu não admito que devesse recorrer ao servilismo porque estava em perigo, e não me arrependo agora de ter-me assim defendido. Prefiro muito mais a morte como resultado desta defesa, do que viver por ter agido da outra forma. Em um Tribunal, como na guerra, nem eu, nem ninguém deve usar suas artimanhas para escapar da morte a qualquer custo.

Nas guerras, muitas vezes é óbvio que se pode escapar de ser morto, entregando suas armas e a si mesmo à misericórdia dos seus inimigos. Em qualquer tipo de perigo, há sempre muitos meios de escapar à morte, se você for suficientemente sem escrúpulos para não ser fiel a nada nem a ninguém.

O difícil não é evitar a morte, mas sim, evitar proceder mal. Assim sairemos daqui: eu julgado por vós digno de morte; eles julgados pela verdade, culpados de impostura e de injustiça.

Quanto ao futuro, quero fazer uma previsão aos que me condenaram.

Encontro-me naquele momento de uma vida, em que o dom da profecia está mais ao alcance dos homens: um pouco antes de morrer.

Eu afirmo a vocês, meus carrascos, que, tão pronto esteja morto, a vingança fará tombar sobre vocês, uma punição bem mais dolorosa do que a minha morte.

Vocês me condenaram à morte na crença de que, por meio dela, se livrarão da crítica à sua conduta, mas eu afirmo, o resultado será exatamente o oposto.

Se vocês esperam que cesse a denúncia da sua maneira errada de viver, condenando as pessoas à morte, existe algo de muito errado no seu raciocínio. Esta forma de escapar à crítica não é nem possível, nem honrosa.

A melhor forma, e a mais fácil, não é calar a boca de outros, mas se tornarem pessoas justas.

Esta é a minha última mensagem aos que me condenaram.

Mas eis que chegou a hora de partir, eu para morrer, vós para viver. Qual de nós terá melhor sorte? Ninguém o sabe, somente Deus”.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O EXÉRCITO DAS ORIANAS

Em foto de Daniel Castellano, a jornalista Terezinha Cardoso, em sua casa na Barreirinha, com o retrato ganho do cartunista Cláudio Seto


Elas enfrentaram a família,
a repressão e fizeram das masculinizadas redações
palcos para discutir
direitos humanos, saúde, cultura e meio ambiente


(Texto do jornalista JOSÉ CARLOS FERNANDES, veiculado no Jornal Gazeta do Povo nesta quinta-feira, 02.12.2010)


Em meados da década de 1940, uma adolescente italiana de 16 anos – Oriana Falacci – estreou no jornalismo, uma profissão em que as mulheres não eram só uma minoria. Não eram bem-vindas. A rotina das redações de jornal, por muito tempo, esteve associada à boemia e a um camaradismo que rivalizava com o Clube do Bolinha. Garotas poderiam não só desconcentrar os membros desses QGs como romper com as práticas de beberagem e tapinhas nas costas, nem sempre amigas da boa imprensa. Nada mais natural, na visão dos marmanjos, que elas se matriculassem na Escola de Educação para o Lar, na Rua Bento Viana, e procurassem atividades que lhes garantiriam voltar para casa mais cedo.

Não se sabe ao certo qual foi a recepção à esguia e aristocrática Oriana nos jornais por onde passou. O que se sabe é que nas duas décadas que se seguiram à sua estreia ela iria se tornar muito maior do que boa parte dos homens de terno, bigode e cigarros na mão com os quais dividiu a rotina de pautas e fechamentos. Formada no movimento clandestino “Justiça e Paz”, Oriana trouxe para a imprensa ganas pelos direitos humanos. Não ficou só na garganta. Cobriu, por exemplo, a Guerra do Vietnã, para citar um dos muitos territórios que desbravou, garantindo seu lugar nas páginas do capítulo mais estimulante do século 20 – a década de 1960.

No Brasil, a memória de Oriana, morta em 2006, parece descansar em paz. Salvo exceções. Os leitores da revista Realidade – que circulou entre 1966 e 1976 – não citam a publicação sem lembrar dos escritos acachapantes da italiana. Alguns, feito membros de uma ordem secreta, ainda guardam a edição de bolso da bela Carta a um menino que não chegou a nascer, lançado pela jornalista em 1975 e, com folga, o maior libelo antiaborto de que se tem notícia.



Na foto de Daniel Castellano, do Jornal Gazeta do Povo, a jornalista Vania Mara Welte: Prêmio Esso de Jornalismo, em 1996, pela série de reportagens do caso das “Bruxas de Guaratuba”

Em meados de novembro, meio que por acaso, um outro nicho de resistência aos “tempos de Oriana Fallaci” veio à tona, em Curitiba, por puro acaso. A dizer. Em uma única semana, alunos de Jornalismo de duas universidades locais – a PUCPR e UFPR – fizeram eventos em homenagem às primeiras repórteres paranaenses. A lista de convidadas é imperfeita, pois lhe falta jornalistas dos anos 50 e expoentes como Lúcia Ca¬¬margo, Marilu Silveira e Rosirene Gemael. Mas é um bom começo para recuperar a contribuição feminina à imprensa.

A galeria passa por Rosy de Sá Cardoso, que para escândalo começou a escrever em jornal nos idos de 1948 e foi a primeira a obter registro profissional; e por Mara Cornelsen, da geração 70, chamada pomposamente de musa do jornalismo policial, hoje convertido em jornalismo de segurança púbica. Entre uma e outra passa um rio – tem-se a presa política Teresa Urban, da estirpe dos jornalistas perseguidos pela ditadura; e Adélia Lopes, sem a qual não se conta nem a história da tevê nem a do jornalismo cultural impresso no estado.

Pois na UFPR, sentadas em semicírculo, diante de uma plateia de jovens que poderiam ser seus netos, cinco dessas muitas pioneiras se juntaram aos cultivadores de Oriana Fallaci e fizeram um tributo espontâneo à mulher que as inspirou, um dia, a escolher o jornalismo. Foi a melhor maneira de dizer que o sonho não acabou.

As declarações de amor a Oriana não são garantia “científica” de que a ativista tenha formado um discipulato no Brasil. Mas são um ótimo indicativo de que as primeiras mulheres que se achegaram das redações estavam atraídas pelo que há de mais nobre no jornalismo – a capacidade de abalar as estruturas sociais, como se dizia nas rodinhas ripongas ou nas guerrilheiras.

Por ironia, a contar pelo que foi dito aos estudantes, a maioria teve de começar a mudança pela cozinha de casa: informar que ia cursar Jornalismo equivalia a contar que tinha perdido a virgindade ou fumado maconha depois de uma matinê no Thalia. As reações eram as mais diversas, e divertem quem nasceu num tempo em que namorado pode não só dormir na casa da sua guria como tomar café da manhã com o “velho” dela.

Rosy – neta do coronel João Gualberto, herói da Guerra do Contestado – já tinha mandado às favas a etiqueta de mocinha da sociedade antes de integrar a equipe de O Dia, no final dos anos 1940: a redatora vinha de breve e luminosa carreira como cantora de rádio, tornando-se uma das estrelas da Guairacá. Tamanho topete, claro, fez com que sua avó materna a declarasse “vergonha da família”. O jornalista João Dedeus Freitas Neto, grande amigo, bem que ponderou. “Rosy, naquela época, pior do que cantora de rádio e jornalista, só mesmo prostituta...”

Os pais, sabe-se, seguiam uma espécie de cartilha do Bope. E muitos homens de imprensa faziam o impossível para que as redações não se tornassem uma sucursal do Colégio Sion. “Eu tive de começar a usar calça comprida. Saía com o fotógrafo para a reportagem e ele ficava me olhando estranho, com cara de quem queria...”, relembra a impagável veterana Terezinha Cardoso, 64 anos, registrada em O Estado do Paraná no dia 13 de dezembro de 1968, aquele do AI-5. Senta que lá vem história.

Perrengue semelhante passou Vânia Mara Welte. Quem a conhece sabe que o verbo correto é esse: ela “estreou” na redação de O Estado do Paraná em 1967 quando ainda era estudante de Jornalismo da Católica. Tinha todos os predicados para o posto: cursara escola normal, era moça de fino trato, lia Realidade e estava antenada tanto nas revoluções de costumes vindas de Paris quanto nas passeatas da Rua XV.

A extroversão, a inteligência viva, assim como os cabelos asa da graúna e as minissaias que fariam corar Mary Quant, fizeram com que Welte vivesse cercada de rapapés. A guria que até então alfabetizava soldados na Praça Oswaldo Cruz e chamava às falas fardados de alta patente, adorou o chamego. Tinha encontrado sua turma. Décadas depois, já casada, com filho e consagrada como uma das nossas Orianas, soube pelo jornalista Francisco Camargo, o Pancho, que aqueles homens tão gentis tinham feito uma aposta sobre quem a levaria para a cama primeiro. Ah, perdedores!

Essa conversa é uma delícia, mas não se resume a um café com bobagem. A chegada das mulheres às redações serve de munição para os estudiosos de gênero, interessados no impacto do feminino nos anais da imprensa. É o que confirmam os depoimentos. As primeiras deduções sobre o material reunido são adiantadas por elas mesmas – senhoras hoje entre 80 e poucos e 60 e não se fala mais nisso: ao tratar as pioneiras como bibelôs, ou como objeto de abate, os homens, talvez inconscientemente, tramavam aniquilar a influência daqueles Orianas. “De certa forma, continua assim”, pontua a outra Teresa, a Urban.

Não se sabe com segurança quantas mulheres passaram pelas redações paranaenses entre Rosy Cardoso e Mara Cornelsen, naquele que se pode chamar de “período de formação”. O que dá para afirmar é que nessa fase não lhes serviram o filé mignon da reportagem, como o jornalismo de economia e de política. As que chegaram antes ficaram encarceradas nos voiles e cetins do colunismo social de antanho. As que vieram atrás foram mandadas para a porta das delegacias, onde digeriram copos de cólera: os homens que cobriam policial não raro ficavam amigos de delegados, assumiam seu linguajar e recebiam informação privilegiada. Para elas, não teve refresco. Era um bom convite a desistir. Muitas devem tê-lo feito. Outras arrumaram as malas e desbravaram seu próprio Vietnã.

Em tempo: Rosy é uma das mais longevas do jornalismo de turismo do Brasil. Teresa Urban é das inauguradoras do jornalismo ambiental. Teresinha Cardoso tem no currículo a cobertura de casos feito o da morte de Leon Eliachar, em 1987, para O Globo, e uma longa folha corrida de serviços à economia. Vania Mara Welte é Prêmio Esso de Jornalismo por sua cobertura do caso conhecido como “Bruxas de Guaratuba” e é referência em Direitos Humanos. Mara enfrenta a violência, pois é preciso. Elas falam de Oriana Fallaci com intimidade: são amigas de longa data.



Para saber mais

Veja como encontrar mais informações sobre as desbravadoras do jornalismo:

Imprensa de batom

- Projeto de conclusão de curso de Jornalismo na PUCPR das estudantes Amanda Bahl, Marina Salmazo, Natasha Schaffer e Bárbara Albuquerque, com orientação da jornalista Suyanne Tolentino. http://www.imprensadebaton.blogspot.com/.


Pioneiras do jornalismo paranaense
- Alunos produziram debate com mulheres que chegaram às redações na década de 1960 e 1970 e produziram série de reportagens. Coordenação da estudante Fernanda Sartor. www.jornalcomunicacão.ufpr.br.




CARTA A UM MENINO QUE NÃO CHEGOU A NASCER

(Abaixo o texto da já falecida jornalista italiana Oriana Fallaci, na foto)


À noite soube que existias:
uma gota de vida que se escapou do nada.
Eu estava com os olhos abertos
de par em par na escuridão e, de repente,
nessa escuridão, acendeu-se um relâmpago de certeza:
sim, estavas aí. Existias



O texto é de Oriana Fallaci, a grande escritora nascida em Florença, Itália em 1932. Ela descreve nesta terna e aterradora carta a um menino que não chegou a nascer, escrita em 1978, essa sensação de amor e ao mesmo tempo de arrependimento que sentem algumas mulheres ao trazer à vida um ser a quem não podem assegurar a felicidade; um ser que talvez um dia nos repreenderá com amargura: Quem te pediu que me trouxesses ao mundo, porque me trouxeste, por quê?


"Uma gravidez difícil por ser, além de mãe solteira, uma mulher com êxito profissional cujos planos se fecham perante o anúncio imprevisto deste filho não planejado.

A minha amiga diz que estou louca em querer conservar-te. Ela, que está casada, abortou quatro vezes em três anos. Essa cruel alternativa é considerada também fugazmente por esta mulher inteligente.

Na escuridão que te envolve ignoras até que existes. Eu poderia desfazer-me de ti e tu nunca o saberias. Não terias a possibilidade de chegar à conclusão de que se eu te fiz mal ou te dei um prêmio. Todavia nada é pior que o nada, filho. O que é verdadeiramente mau é nunca existir.

E assim, o poderoso instinto materno triunfa sobre o raciocínio intelectual e lógico desta mulher excepcional. E, então, a mulher-mãe, procura proteger o seu filho, ainda que contra a sua própria vontade. Começa assim, ao longo da sua breve gravidez, um terno e aterrador monólogo com esse ser tão estranho e ao mesmo tempo tão seu, que tomou posse das suas entranhas.

Certamente, tu e eu formamos um estranho par, meu menino. Tudo em ti depende de mim, e tudo em mim depende de ti. Se adoeces, eu adoeço e se eu morro, tu morres. Mas, estranhamente, não posso comunicar-me contigo, nem tu comigo. Aí dentro, ignoras o que é a escravidão. Aqui fora, por outro lado, terás mil amos. E o primeiro amo serei eu, que, sem querer, talvez sem sequer me dar conta - te submeterei a imposições que são justas para mim, mas não para ti.

O teu encontro com o mundo será um pranto desesperado. Nos primeiros tempos só conseguirás chorar. Passarão semanas e mesmo meses até que da tu boca se abra um sorriso. Serás um homem ou uma mulher?

Quisera que fosses mulher. Ser mulher é fascinante, é um desafio que nunca chega a aborrecer. Terás que bater-te para demonstrar que dentro do teu corpo liso e arredondado há uma inteligência, pedindo com gritos que a escutem.

Cansar-te-ás de gritar. E, de vez em quando, quase sempre, perderás. Mas não deves desanimar. Bater-se por uma causa é muito mais reconfortante que vencer; viajar, muito mais divertido que chegar. Sim. Espero que sejas mulher; não faças caso se te chamo menino. Porém se nasceres varão, sentir-me-ei igualmente contente e talvez mais, porque te verás livre de muitas humilhações, de muitas servidões, de muitos abusos.

Naturalmente, te corresponderão outras escravidões, outras injustiças; nem mesmo para um homem é fácil a vida, sabes? E, todavia, ou precisamente por isso, ser homem constituirá uma aventura maravilhosa, um empreendimento que não te decepcionará jamais.

Comprei-te um berço. Depois de comprá-lo recordei-me que, segundo dizem alguns, possuir um berço, antes que nasça o menino, dá azar. Mas as superstições já não me afetam. E, todavia, algo sucede. A mãe deixa de sentir a presença do filho. Visita o médico e as suas palavras cordialmente indiferentes, fundem-na num pesadelo. Tem razão. Desde há pelo menos duas semanas, talvez três, já não cresce. Ânimo, não há mais remédio. Morreu?

Desde o fundo do seu coração parece-lhe escutar a voz do seu filho: por que tenho que existir mamãe? Qual é a finalidade? No meu universo, que tu chamas ovo, essa finalidade existe: nascer. Mas no teu mundo a finalidade é tão só morrer. A vida é uma condenação à morte. E eu não vejo porque tenho que sair do nada para regressar ao nada?.

Martelante e cruel, surge dolorosa a pergunta a que jamais poderei ter contestação. Terei sido eu, filho, quem te decepcionei da vida e te impulsionou para o suicídio?

Não obstante, a mãe compreende que a indescritível dor por esse filho que não nasceu, é apenas um fato isolado da voragem da reprodução humana.

Agora já não estás. Apenas há um frasco de álcool dentro do qual flutua algo que não quis converter-se em homem ou em mulher. Por que deveria fazê-lo? me perguntaste. Pois porque a vida existe, menino!

Mas em algum outro lugar nascem mil, cem mil meninos, e mães de futuros meninos. A vida realmente, não necessita nem de ti nem de mim. Tu estás morto e talvez morra eu também. Mas não importa, filho, porque a vida nunca morre."

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ENCONTRADA VIVA


GABRIELI, 13 ANOS


Felizmente, desta vez, foi encontrada viva na cidade de Mandirituba, na casa de familiares do raptor, um rapaz de 19 anos, que está foragido.


Infelizmente o mesmo não aconteceu com as duas adolescentes que desapareceram da casa dos pais, na Bahia. Os corpos das meninas foram encontrados. Elas foram assassinadas e tiveram a cabeça decapitada.

Aqui, no Sul do Brasil, para este feliz resultado, foi muito importante a atuação do NUCIBER - Núcleo de Combate aos Ciber-Crimes do Paraná. Fone: (41) 3323 9448.

Por favor, envie aos amigos, para que esta corrente cesse.

O CRIDESPAR AGRADEÇE por fazer da Internet, um veículo útil de informação em favor do bem e da vida.


CRIDESPAR
Movimento Nacional em Defesa da Criança Desaparecida do Paraná
Rua Osório Duque Estrada, 1.132
Jardim Social
Curitiba / Paraná
CEP.: 82.520- 460

Fones: (41) 3262 1500 / 9995 5395 / 9957 5161
E-mail: cridespar@gmail.com

domingo, 21 de novembro de 2010

S.O.S. SOLIDARIEDADE!!!

ATENÇÃO!!!
É UMA CRIANÇA.
E PRECISA DE SUA AJUDA!
AJUDE A ENCONTRAR
GABRIELE HACCOURT,
13 anos.

Veja o cartaz, ELA ESTÁ:

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

OS PRESIDENTES

Foto Ricardo Stuckert - Divulgação

Abraçada a Lula, Dilma Rousseff chora
na noite da vitória;
eleita disse 'você inventou tudo isso,
a ideia foi sua' ao presidente,
que lhe perguntou
se a 'ficha' já havia caído, relata Mônica Bergamo


(Extraído do Jornal Folha de São Paulo desta terça-feira, 02.11.2010)

domingo, 31 de outubro de 2010

VIVAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!

AVE!!!
DILMA ROUSSEFF!!!


A nova presidente do Brasil.
Ela faz história.
É a primeira vez que uma mulher comanda o país.
Vida longa e sucesso
em tudo o que fizer em favor do Brasil.

VMW

ESTÁ CHEGANDO A HORA...

Falta pouquinho
para anunciar o novo nome
à Presidência da República do Brasil!

BOM DIA BRASIL!

Peço licença ao amigo e baita profissional Jader da Rocha
para também homenagear neste dia, com esta sua bela foto,
todos os brasileiros e brasileiras.
Que se faça a melhor escolha
para todos, para o Brasil.

VMW

sábado, 30 de outubro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

RATINHO JUNIOR, UM POLÍTICO COM POSIÇÕES CLARAS E CORAJOSAS



“Eu fiquei fascinado com a questão do aborto
sendo discutida pelos políticos.
Tenho posição a favor do ser humano
e as pessoas devem entender que
os políticos têm posições, sim”,
disse o deputado federal do PSC,
em entrevista à jornalista Joice Hasselmann


Com perguntas polêmicas e desafiadoras, a jornalista Joice Hasselmann, a pimenta nativa, mostrou na manhã desta sexta-feira, 22, aos ouvintes da Rádio Bandnews as razões pelas quais o deputado federal Ratinho Junior, também presidente estadual do PSC no Paraná, foi legitimado na Câmara Federal por 358.924 votos, nestas últimas eleições de 2010. Sem qualquer receio, Ratinho Junior se posicionou sobre delicados e difíceis temas como casamento entre homossexuais, homofobia, indústria da multa de trânsito, metrô, reeleição de mesas diretoras legislativas, assinatura de ponto, o novo Governo do Paraná e eleições à Prefeitura de Curitiba em 2012, entre outros temas. “Eu pertenço a um partido cristão. Sou a favor da liberdade, inclusive de opção sexual, e não da libertinagem. Eu fiquei fascinado com a questão do aborto sendo discutida pelos políticos. Tenho posição a favor do ser humano e as pessoas devem entender que os políticos têm posições, sim”.

Eis as principais respostas de Ratinho Junior:

METRÔ – “Em 2007 o sistema de transporte de Curitiba começou a ficar defasado. Minha equipe e eu pensamos na solução do metrô para dar uma melhor qualidade de vida à população. Nós fomos verificar esta questão na Prefeitura Municipal de Curitiba. Lá, obtivemos a resposta de que havia o projeto, mas precisava de recursos para sair do papel. Então, eu fui buscar o recurso financeiro. Em julho daquele ano, o metrô entrou na Lei de Diretrizes Orçamentárias. Em dezembro, a verba para a construção do Metrô de Curitiba foi garantida no Plano Plurianual de Investimentos, o PPA 2008/2011, com o apoio de toda a bancada do Paraná. Com o apoio também do presidente Lula, garantimos o metrô no orçamento da União. Mas, para nosso espanto, na Prefeitura de Curitiba não havia o projeto, nem de viabilidade econômica, nem de engenharia ou de licença ambiental. O que a Prefeitura deve fazer agora? Começar pelo projeto de licença ambiental. A verdade é que, nos últimos 10 ou 15 anos, não se pensou em mudar o sistema de transporte urbano de Curitiba. Assim, a cidade perdeu a vanguarda. E por quê não se mexe nisto? Porque há um lobby que garante as eleições à Prefeitura. De nossa parte, nós entramos 2010 com o metrô de Curitiba na agenda de negociações do governo federal e municipal. Agora, é só esperar”.


PREFEITURA DE CURITIBA e A MÁFIA DOS RADARES – “A Prefeitura de Curitiba é um de seus alvos em 2012?” – perguntou Joice.

“Você me perguntou antes sobre os radares de Curitiba. Eu não me esqueci e vou responder agora. A questão radares se transformou, em Curitiba, na máfia dos radares porque é um tipo de arrecadação da Prefeitura e perdeu a sua finalidade educacional. Por quê não continuar com as lombadas eletrônicas que dão avisos ao motorista? Não. E isto começou na administração de Cassio Taniguchi. Uma empresa conseguiu ganhar a licitação dos radares e, sem licitação, esses serviços foram prorrogados. Depois, sem qualquer fiscalização, deram um jeito, com uma licitação, de prorrogar este contrato com esta mesma empresa. Obviamente há algo de errado. Quanto a eu ser candidato à Prefeitura de Curitiba, seria uma leviandade eu dizer isto, porque saí das urnas agora para a Câmara Federal. Curitiba é uma cidade muito exigente. Quando a Nestlé quer lançar um produto no país, vem testar aqui, em Curitiba. Assim receber cerca de 12% dos votos da população de Curitiba é uma grande honra e alegria para mim. E quando começam a colocar o seu nome como um possível candidato à Prefeitura é uma grande honra. Curitiba é uma vitrine nacional. Além disto é uma honra e um orgulho para quem administra a cidade. Curitiba tem um dos maiorers PIBs do Brasil. Mas não posso sair de uma eleição com quase 360 mil votos e dizer que agora sou candidato. E ninguém consegue gerir Curitiba sozinho. Temos de ouvir as pessoas, o partido… Joice, como diz o Zeca Pagodinho: deixa a vida me levar, No momento, eu devo representar, em Brasília, muito bem o povo do Paraná. O povo busca, hoje, representantes com grande credibilidade.


PROJETO DE LEI 122, NÃO À HOMOFOBIA – “Qual é a sua posição sobre o Projeto de Lei 122?”, questionou.

“Não sou homofóbico. Eu tenho amigos entre os GLTs. Tenho princípios cristãos. Não podemos segregar ninguém. Temos de respeitar a todos, a todas as opções. Mas não sou a favor do casamento homossexual. Casamento é uma questão religiosa. A discriminação deve ser banida. Mas não podemos confundir liberdade com libertinagem. Eu tenho filhas. Eu não quero que a minha filha de sete anos veja dois homens se beijando em praça pública. Isto eu não quero para a minha filha. Eu fiquei fascinado com a questão do aborto sendo discutida pelos políticos. Tenho posição a favor do ser humano e as pessoas devem entender que os políticos têm posições, sim. Devem deixar bem claro os seus posicionamentos para que a população os conheça bem. O Projeto de Lei 122 torna crime a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero. Eu sou a favor disto, mas há muitas outras coisas a serem discutidas, porque o projeto também fala sobre casamento gay e eu sou contrário a isto. Acho que pode haver uma união civil. Isto sim. Eu sou a favor de jamais desrespeitar a opção sexual de qualquer pessoa. Mas reforço as leis e a família como pontos fundamentais para se manter uma linha de conduta, de ordem no país”.


VOLTANDO À INDÚSTRIA DAS MULTAS – Joice reproduz a pergunta de um ouvinte: “aonde está a indústria da multa se só se multa quem ultrapassa a velocidade?”

“O ouvinte está certo. Mas eu só disse que, antes, os radares tinham um perfil educacional. Hoje, não têm mais”.


“BATER O PONTO NA CÂMARA FEDERAL E VIAJAR É CORRETO?” – (pergunta de outro ouvinte, reproduzida por Joice Hasselmann, que afirmou ter o cidadão duvidado que ela transmitisse a questão ao deputado Ratinho Junior)

“Eu nunca bati o ponto na Câmara Federal e saí para ir à praia. Eu bato o ponto para ir trabalhar em algum outro lugar. Muitas vezes para falar com algum ministro e, certamente, não para falar com ele de futebol, mas para falar em favor de alguma ação para o Paraná”.


PROJETO DE LEI 426 - “Este Projeto de Lei de sua autoria quer acabar com a reeleição nas mesas diretoras legislativas?”, pergunta Joice.

“A idéia é tentar melhorar a imagem e a prática legislativa. Queremos uma linha próxima ao Congresso Nacional. Não que o Congresso seja sempre exemplar. Mas esta questão de não reeleger a mesma diretoria é salutar. Veja, o deputado Arlindo Chinaglia é um bom deputado, mas ele foi um péssimo presidente na Câmara Federal. Ele demorava muito para trabalhar as questões. E isto travava a Casa. Travava todo o processo legislativo. Já, o deputado Michel Temer, mais experiente, mudou o ritmo e acelerou os trabalhos. Mas não significa que ele deva se perpetuar na presidência. Há muitos presidentes que têm vereadores e deputados embaixo do braço. Isto tem de acabar. Esta coisa do toma lá, dá cá, deve acabar no Brasil”.


APOIO AO NOVO GOVERNADOR DO PARANÁ – “O seu apoio foi para o candidato Osmar Dias, como vai ser agora com o novo governador Beto Richa?”

“Eu não posso sair rancoroso das eleições. Eu apoiei o Osmar Dias e ele não foi eleito. Venceu Beto Richa. Eu quero que Beto Richa faça um bom governo, um bom trabalho. Um dia, ele e eu vamos deixar a política, mas o Paraná fica, permanece. Então, é pelo Paraná que devemos lutar. O Beto Richa tem um posicionamento diferente de Roberto Requião. Beto Richa tem diálogo e será mais fácil trabalhar na parte coletiva. Ele tem do lado dele parlamentares com bom trânsito no Paraná. Nós vamos ajudar no que for bom para a população, para o Paraná”.


AGRADECIMENTOS – “Foi um jogo duro, mas foi bom. Obrigada deputado”.

“Sou eu quem agradece a oportunidade”.

Da Assessoria de Imprensa

(41) 3352 9297 e 3076 3350

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

MULHER DE FIBRA

(Foto extraída do Site Jornale)

“Vim reiterar o meu apoio
a esta mulher de fibra,
que já passou por tudo,
e não tem medo de nada.
Vai herdar um governo
que não coteja os poderosos de sempre.”


De Chico Buarque de Hollanda,
sobre a candidata do PT
à Presidência da República, Dilma Rousseff

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

PELA DEFESA DAS PRERROGATIVAS DO MAGISTRADO

Nelson Calandra,
em foto de Pedro Serápio

Os juízes brasileiros vão às urnas.
Candidatos à presidência da
Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB)
falam de suas ideias.
Aqui, a entrevista concedida por Nelson Calandra,
desembargador em São Paulo,
da chapa Novos Rumos


Qual é o principal problema enfrentado pela magistratura atualmente?
A magistratura, hoje em dia, vive um sentimento de frustração: trabalha demais, é qualificada como lenta demais e, muitas vezes, acaba exposta publicamente por condutas isoladas de alguns colegas que infringem um dever funcional. Então, nós vivemos esta perplexidade: trabalhamos no limite de nossas forças e acabamos expostos nos veículos de comunicação por pessoas que são, realmente, a minoria da minoria. Hoje, alguns colegas se sentem envergonhados até de declinar publicamente a sua condição de magistrado. Além disso, vivemos no século 19 dentro do Judiciário e o mundo aqui fora vive no século 21. E esse descompasso é gerado, não por falta de fiscalização, mas por falta de investimento em Justiça por parte da classe política.

Quais serão suas prioridades na AMB?
A AMB, ao longo desses anos, vem tomando um caminho, com todo o respeito que tenho pelos colegas que lá estão, de uma ONG. E ela não é uma ONG. Ela é uma entidade de classe e tem que estar voltada para seu associado. Ela não pode se tornar mais uma corregedoria. A gente nota nos pronunciamentos da AMB que ela, muitas vezes, assume uma posição inadmissível para uma entidade que tem por finalidade defender o magistrado: ela passa a se pôr como mais uma corregedoria do juiz, julgando a conduta do juiz. Então, quando algum magistrado comete alguma falha que demande intervenção de algum órgão fiscalizador, seja o CNJ, a corregedoria ou o plenário do tribunal, a AMB tem que zelar para que as prerrogativas do magistrado sejam observadas. Não me importa a conduta do juiz, o que me importa é que aquelas prerrogativas dele sejam obedecidas. Você não pode, no momento em que um colega é aposentado compulsoriamente, dizer, por exemplo, que “é muito bom porque está limpando a casa”, porque você está comparando o seu associado com lixo. E isso nós não podemos admitir.

Qual é a sua opinião sobre a atuação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)?
Vejo o CNJ hoje, mais do que nunca, como um órgão necessário. Mas nós, juízes, somos a única categoria de réus do planeta que é julgada, dentro do CNJ, por aqueles que formam juízo de acusação. A minha posição crítica não está dirigida aos colegas, mas à dinâmica e à arquitetura do CNJ. Acho que temos que aperfeiçoá-lo para torná-lo um órgão verdadeiramente democrático. Ele não pode interferir em demasia, sob pena de aniquilar outro mecanismo mais precioso ainda, que é a independência dos juízes.

O que o senhor pensa do quinto constitucional?
Não temos nada contra os integrantes de outras categorias, mas queremos ver preservadas as cadeiras para a magistratura de carreira. Isso tudo tem que passar por um grande debate. Eu, pessoalmente, entendo que a associação é de magistrados. Magistrado que foi nomeado pelo quinto é associado da AMB, tem que se tratado com respeito, com dignidade. Como presidente de uma entidade de classe, eu não posso me pôr contra meu associado. Esse debate é da AMB pra fora. Temos que discutir com a Ordem dos Advogados do Brasil, com o Ministério Público, debater profundamente o tema e chegar a uma conclusão.

Segundo o Índice de Confiança no Judiciário do 2.º trimestre de 2010, levantado pela Fundação Getúlio Vargas, apenas 33% da população diz confiar no Judiciário. O sr. concorda que a Justiça vive uma crise de credibilidade? O que fazer para mudar esse quadro?
Se a imagem que é projetada é uma imagem negativa (“juízes expulsos da magistratura” antes mesmo que transite em julgado o procedimento), se a imagem que a gente projeto é que o acervo de trabalho decorre de omissão do juiz, não de falta de investimento do Estado, ocorre que a população vai desconfiar desse Poder de Estado. Em minha experiência de auditor de banco, no início da vida profissional, se eu publicasse no jornal que “esse banco tem um ladrão”, “esse banco tem um corrupto”, podia estar circunscrito a uma única agência do banco, no dia seguinte o banco estaria quebrado no Brasil inteiro. Então temos que mostrar os bons serviços que a magistratura presta. O CNJ veio aqui no Paraná e fez um relatório detalhado sobre a magistratura paranaense e encontrou, sob seu ponto de vista, 113 pontos negativos, mas não falou das 1.113 coisas boas que fez a magistratura paranaense. O CNJ vem mostrando diariamente que a situação do Judiciário é difícil, que há juízes errados, mas não mostra as boas práticas, aquilo que deveria ser a vitrine boa da magistratura. Há muitos exemplos positivos. Se você falar dos fatos negativos sem falar dos positivos o resultado é que, perante a opinião pública, a desconfiança cresce. Às vezes, por uma bobagem qualquer, sujeito pensa: “acho que fui condenado porque o juiz não presta”. Nossa avaliação negativa decorre de uma exposição extraordinária. Juiz não precisa de exposição. Juiz precisa ser protegido, precisa ter os meios materiais para trabalhar e prestar um serviço de primeira classe à população. A Justiça vive da sua credibilidade, do respeito que a cidadania deve ter para com seus integrantes. É um Poder desarmado, é um Poder que não tem nem a força da espada nem a força da economia, o poder econômico. Então nós vivemos da nossa credibilidade, do respeito que o cidadão tem pelo juiz. E isso tudo tem sido abalado porque algumas mazelas ligadas à minoria da minoria são expostas como se fosse a realidade do Brasil.


A sociedade não aprova prerrogativas da magistratura, como a aposentadoria compulsória punitiva. O que o sr. pensa a respeito?
Há garantias que são mais antigas do que muitas gerações das nossas famílias. Em 1222, houve uma revolução na Inglaterra porque a população inglesa queria ter juízes que não fossem demitidos por um simples gesto do rei. Eles queriam que os seus juízes tivessem essa garantia que nós estamos questionando agora. A grande vitória de revolução inglesa foi ter juízes independentes e vitalícios. E isso veio até nós. Agora nós queremos dar uma marcha-ré no tempo para voltar ao tempo da barbárie. Quando se diz que vitaliciedade é um prêmio indevido para quem violou deveres da toga, trata-se de alguém que não conhece o que é a história democrática do mundo; trata-se de pessoa que não sabe o que é um processo disciplinar contra juiz. Eu conheço colegas que foram aposentados compulsoriamente: parecem zumbis. São pessoas que foram excluídas da vida útil. Você imagina alguém aposentado, com vencimentos proporcionais, que não pode ser advogado e vai ter que encontrar outra profissão. Se nós negarmos essa aposentadoria, que é proporcional ao tempo de contribuição, não vamos desamparar o faltoso, mas a família do faltoso. Então, a aposentadoria compulsória é exílio moral do magistrado, não é prêmio, nem benesse. E é garantia do Estado Democrático de Direito, porque nós temos que punir os culpados, sim, aposentar compulsoriamente quando for o caso, sim, cassar o cargo de juiz, sim, mas não por uma penada administrativa. Há que existir um processo que tenha um acusador independente e julgadores imparciais, em que ele tenha ampla defesa.


A sociedade também costuma criticar os 60 dias de férias da magistratura. O que o sr. pensa sobre o tema?
Eu posso dizer que férias, para nós, são uma ficção. Principalmente no segundo grau. Eu estou de férias nos meses de agosto e setembro, tirei férias para fazer esta campanha, mas nunca consegui sair um dia de férias. Na verdade, formalmente estou gastando os períodos de férias a que eu tinha direito e continuo a comparecer nas sessões de julgamento, porque sou convocado para votar e se eu não estou lá a sessão não funciona, tenho processos criminais em que sou instrutor contra autoridades públicas e o processo criminal não pode parar. Saí do órgão especial, mas continuo vinculado àquelas causas. Mesmo de férias tenho voltar para ouvir testemunha, para interrogar o réu, então, as férias, para nós, constituem uma ficção. E nós queremos mostrar para a sociedade que esse período de férias de 60 dias é uma necessidade. Esse direito de férias para a magistratura é uma questão de saúde pública. Nós deveríamos, realmente, desfrutar de dois períodos de férias, para que pudéssemos nos refazer. O que a gente mais vê são colegas vítimas de estresse. Há duas semanas, um colega com 36 anos caiu morto no meio de uma audiência em Belo Horizonte, teve um infarto fulminante. Será que isso é bom para o Brasil, para a sociedade? Olhar com tanta discriminação para um benefício que é dado aos parlamentares, que nos criticam. O nosso regime é extraordinário, pois somos protagonistas de um Poder de Estado, temos que ter certos direitos e garantias próprios de um Poder de Estado.


* Conheça mais ideias e propostas do candidato Nelson Calandra no site


Entrevista concedida ao jornalista Vinícius André Dias, veiculada no Jornal Gazeta do Povo, nesta sexta-feira, 15.10.2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

PARA LER E REFLETIR!

Reflita sobre as mensagens que a nossa amiga,
Maria Inês Peixoto, nos envia.
Reflita. Faça o melhor!
Hoje, dia de Nossa Senhora Aparecida,
Padroeira do Brasil!
E Dia das Crianças!
Pense em mim!
Pense nas futuras gerações deste país.
Olha só o que esta filósofa, professora,
artista plástica e ser humano de primeira grandeza
diz no texto abaixo



Amiga, Amigo!



Como, de fato, na atual conjuntura tem sido posta em foco de forma muito mais explícita a relação entre a religião e a política, existente desde os tempos mais remotos das diversas comunidades religiosas no mundo ocidental e oriental, vale a pena acompanharmos e intervirmos nesse processo que pode ameaçar a democracia.

Talvez você já tenha conhecimento, mas estou lhe repassando a "Nota da CNBB", que considerei importante reenviar a todos, independentemente das suas posições religiosas.

Também segue o texto do Frei Betto, que saiu na Folha de S. Paulo, deste domingo, e mais um texto do Reverendo Cerveira, da 2ª Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte. (Os textos seguem abaixo). São todos de grande importância para a reflexão de cada brasileira, de cada brasileiro.

Um forte abraço;

Maria Inês Peixoto
Filósofa, professora universitária e artista plástica


-------------------------------------------------- Eis os textos:


sexta-feira, 8 de outubro de 2010


CNBB LAMENTA QUE O NOME DA CNBB TENHA
SIDO USADO INDEVIDAMENTE AO LONGO DA CAMPANHA

Nota da CNBB em relação ao Momento Eleitoral

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por meio de sua Presidência, congratula-se com o Povo Brasileiro pelo exercício da cidadania na realização do primeiro turno das eleições gerais, quando foram eleitos os representantes para o Poder Legislativo e definidos os Governadores de diversas unidades da Federação, bem como o nome daqueles que serão submetidos a novo escrutínio em 2º turno, para a Presidência da República e alguns governos estaduais e distrital.

A CNBB congratula-se também pelos frutos benéficos decorrentes da aprovação da Lei da Ficha Limpa, que está oferecendo um novo paradigma para o processo eleitoral, mesmo se ainda tantos obstáculos a essa Lei tenham de ser superados.

Entretanto, lamentamos profundamente que o nome da CNBB - e da própria Igreja Católica – tenha sido usado indevidamente ao longo da campanha, sendo objeto de manipulação. Certamente, é direito – e, mesmo, dever – de cada Bispo, em sua Diocese, orientar seus próprios diocesanos, sobretudo em assuntos que dizem respeito à fé e à moral cristã. A CNBB é um organismo a serviço da comunhão e do diálogo entre os Bispos, de planejamento orgânico da pastoral da Igreja no Brasil, e busca colaborar na edificação de uma sociedade justa, fraterna e solidária.

Neste sentido, queremos reafirmar os termos da Nota de 16.09.2010, na qual esclarecemos que “falam em nome da CNBB somente a Assembléia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência”. Recordamos novamente que, da parte da CNBB, permanece como orientação, neste momento de expressão do exercício da cidadania em nosso País, a Declaração sobre o Momento Político Nacional, aprovada este ano em sua 48ª Assembléia Geral.

Reafirmamos, ainda, que a CNBB não indica nenhum candidato, e recordamos que a escolha é um ato livre e consciente de cada cidadão. Diante de tão grande responsabilidade, exortamos os fiéis católicos a terem presentes critérios éticos, entre os quais se incluem especialmente o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana.

Confiando na intercessão de Nossa Senhora Aparecida, invocamos as bênçãos de Deus para todo o Povo Brasileiro.

Brasília, 08 de outubro de 2010


P. nº 0849/10
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB

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Folha de S. Paulo, domingo, 10 de outubro de 2010



TENDÊNCIAS/DEBATES

DILMA E A FÉ CRISTÃ

Por FREI BETTO*


Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará
uma única linha contrária aos princípios do Evangelho e da fé cristã
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Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte. Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência.

Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de "marxista ateia".

Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória - diria, terrorista- acusar Dilma Rousseff de "abortista" ou contrária aos princípios evangélicos.

Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade. Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo.

Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica. Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que "a árvore se conhece pelos frutos", como acentua o Evangelho.

É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam.

Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto...

Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.

Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.

Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.

A resposta de Jesus surpreendeu: "Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes..." (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz.

Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

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FREI BETTO, frade dominicano, é assessor de movimentos sociais e escritor, autor de "Um homem chamado Jesus" (Rocco), entre outros livros. Foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004, governo Lula).

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

AS ELEIÇÕES E OS APROVEITADORES DA BOA FÉ E DA CREDULIDADE EVANGÉLICA

Por reverendo Sandro Amadeu Cerveira*


"Se o problema fosse realmente o comprometimento dos candidatos e seus partidos com as questões caras aos religiosos, os líderes evangélicos que abominam estas propostas não teriam alternativa"

Talvez eu tenha falhado como pastor nestas eleições. Digo isso porque estou com a impressão de ter feito pouco para desconstruir ou no pelo menos problematizar a onda de boataria e os posicionamentos “ungidos” de alguns caciques evangélicos. [1]

Talvez o mais grotesco tenham sido os emails e “vídeos” afirmando que votar em Dilma e no PT seria o mesmo que apoiar uma conspiração que mataria Dilma (por meios sobrenaturais) assim que fosse eleita e logo a seguir implantaria no Brasil uma ditadura comunista-luciferiana pelas mãos do filho de Michel Temer. Em outras, o próprio Temer seria o satanista mor. Confesso que não respondi publicamente esse tipo de mensagem por acreditar que tamanha absurdo seria rejeitada pelo bom senso de meus irmãos evangélicos. Para além da “viagem” do conteúdo a absoluta falta de fontes e provas para essas “notícias” deveria ter levado (acreditei) as pessoas de boa fé a pelo menos desconfiar destas graves acusações infundadas. [2]

A candidata Marina Silva, uma evangélica da Assembléia de Deus, até onde se sabe sem qualquer mancha em sua biografia, também não saiu ilesa. Várias denominações evangélicas antes fervorosas defensoras de um “candidato evangélico” à Presidência da República simplesmente ignoraram esta assembléia de longa data.

Como se não bastasse, Marina foi também acusada pelo pastor Silas Malafaia de ser “dissimulada”, “pior do que o ímpio” e defender, (segundo ele), um plebiscito sobre o aborto. Surpreende como um líder da inteligência de Malafaia declare seu apoio a Marina em um dia, mude de voto três dias depois e a apenas seis dias das eleições desconheça as proposições de sua irmã na fé.

De fato, Marina Silva afirmou (desde cedo na campanha, diga-se de passagem) que “casos de alta complexidade cultural, moral, social e espiritual como esses, (aborto e maconha) deveriam ser debatidos pela sociedade na forma de plebiscito” [3]. Mas, de fato, não disse que uma vez eleita ela convocaria esse plebiscito.

O mais surpreendente, porém, foi o absoluto silêncio quanto ao candidato José Serra. O candidato tucano foi curiosamente poupado. Somente a campanha adversária lembrou que foi ele, Serra, a trazer o aborto para dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) [4]. Enquanto ministro da Saúde, o candidato do PSDB assinou em 1998 a norma técnica do SUS ordenando regras para fazer abortos previstos em lei, até o 5º mês de gravidez [5]. Fiquei intrigado que nenhum colega pastor absolutamente contra o aborto tenha se dignado a me avisar desta “barbaridade”.

Também foi de estranhar que nenhum pastor preocupado com a legalização das drogas tenha disparado uma enxurrada de-mails alertando os evangélicos de que o presidente de honra do PSDB, e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso defenda a descriminalização da posse de maconha para o consumo pessoal [6].

Por fim, nem Malafaia nem os boateiros de plantão tiveram interesse em dar visibilidade à noticia veiculada pelo jornal Folha de São Paulo (Edição eletrônica de 21/06/10) nos alertando para o fato de que “O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou nesta segunda-feira ser a favor da união civil e da adoção de crianças por casais homossexuais.” [7]

Depois de tudo isso, é razoável desconfiar que o problema não esteja realmente na posição que os candidatos tenham sobre o aborto, união civil e adoção de crianças por homossexuais ou, ainda, a descriminalização da maconha. Se o problema fosse realmente o comprometimento dos candidatos e seus partidos com as questões acima, os líderes evangélicos que abominam estas propostas não teriam alternativa.

A única postura coerente seria então pregar o voto nulo, branco ou ainda a ausência justificada. Se tivessem realmente a coragem que aparentam em suas bravatas televisivas, deveriam convocar um boicote às eleições. Um gigantesco protesto apartidário denunciando o fato de que nenhum dos candidatos com chances de ser eleitos tenha realmente se comprometido de forma clara e inequívoca com os valores evangélicos. Fazer uma denúncia seletiva de quem esta comprometido com a “iniquidade” é, no mínimo, desonesto.

Falar mal de candidato A e beneficiar B por tabela (sendo que B está igualmente comprometido com os mesmo “problemas”) é muito fácil. Difícil é se arriscar num ato conseqüente de desobediência civil como fez Luther King quando entendeu que as leis de seu país eram iníquas.

Termino dizendo que não deixarei de votar nestas eleições.
Não o farei por ter alguma esperança de que o Estado brasileiro transforme nossos costumes e percepções morais em lei criminalizando o que consideramos pecado. Aliás tenho verdadeiro pavor de abrir esse precedente.

Não o farei porque acredite que a pessoa em quem votarei seja católica, cristã ou evangélica e isso vá “abençoar” o Brasil. Sei, como lembrou o apóstolo Paulo, que se agisse assim teria de sair do mundo.

Votarei consciente de que os temas aqui mencionados (união civil de pessoas do mesmo sexo, descriminalização do aborto, descriminalização de algumas drogas entre outras polêmicas) não serão resolvidos pelo presidente ou presidenta da república. Como qualquer pessoa informada sobre o tema, sei que assuntos assim devem ser discutidos pela sociedade civil, pelo legislativo e eventualmente pelo judiciário (como foi o caso da lei de biossegurança) [8] com serenidade e racionalidade.

Votarei na pessoa que acredito representa o melhor projeto político para o Brasil levando em conta outras questões (aparentemente esquecidas pelos lideres evangélicos presentes na mídia), tais como distribuição de renda, justiça social, direitos humanos, tratamento digno para os profissionais da educação, entre outros temas. (Ver Mateus 25: 31-46) Estas questões até podem não interessar aos líderes evangélicos e cristãos em geral que já ascenderam à classe média alta, mas certamente tem toda a relevância para nossos irmãos mais pobres.

[1] As afirmações que faço ao longo deste texto estão baseadas em informações públicas e amplamente divulgadas pelos meios de comunicação. Apresento os links dos jornais e documentos utilizados para verificação.

[2] Hospital da Alma;

[3] Marina rebate declarações de pastor. Ver também: Líder evangélico ataca Marina e anuncia apoio a Serra ;

[4] Serra é o único candidato que já assinou ordens para fazer abortos quando ministro da Saúde;

[5] Norma técnica - Ministério da Saúde;

[6] Gazeta do Povo - FHC e intelectuais pedem legalização da maconha;

[7] Serra se diz a favor da união civil e da adoção de crianças por gays;

[8] http://www.eclesia.com.br/revistadet1.asp?cod_artigos=206

Fonte:Segunda Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte

REVERENDO SANDRO AMADEU CERVEIRA, cientista político doutorado pela UFMG e pastor da Segunda Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte

terça-feira, 7 de setembro de 2010

PÁTRIA MINHA


















Exatamente na Semana da Pátria,
há datas controversas,
tristes e alegres.
O aniversário de meu bisavô,
Artur, que se estivesse vivo,
seria meu amigão.
É triste não ter ele aqui...
O aniversário de meu pai,
meu amigo, meu herói.
Ele é muito legal.
Inventa uma porção de brincadeiras
e histórias pra mim.
Os irmãos da minha avó também
são bem divertidos.
Meus primos são ótimos companheiros.
Ah! E tem o meu aniversário...
Hoje, 07, é a data da Independência do Brasil.
Mas eu ouço muita gente grande dizer:
Dia da In...dependência do Brasil...
Até quando?
Eu cresço, observo e aprendo:
com os animais que eu adoro;
com os meus amiguinhos e com os amigões...
Pra mim,
foi uma semana de muitas emoções.
**********

Eis, abaixo, o poema de Vinícius de Moraes
sobre a Pátria Amada

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um “libertas quae sera tamem”
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."

(Poema de Vinícius de Moraes, extraído do livro "Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa", Editora Nova Aguiar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 383)