domingo, 27 de fevereiro de 2011

UMA AMOSTRA DA TURMA DO BEM

 

“A amizade é um único espírito em dois ou mais corpos.”

“Se você viver 100 anos,
eu quero viver 100 anos menos um dia,
assim não terei de viver sem você.”


AMIGOS!

..."Não quero nem adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância e a outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa.

(Trecho de poema de Oscar Wilde)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

DARCY RIBEIRO E AS PERGUNTAS QUE NUNCA FIZ


Texto de Eric Nepomuceno,
 - e foto - , publicados 
no Blog de Zé Beto, do Site Jornale,
para lembrar a data em que
Darcy Ribeiro partiu para sempre:
17 de fevereiro de 1997


Nunca perguntei a Darcy Ribeiro se ele costumava cochilar, mas posso assegurar que não. Mesmo breves, seus sonhos seriam profundos. Porque profundos e infinitos em sua ousadia foram seus sonhos. E não se sonha grande com cochilos leves.

Darcy não sonhou pequeno, nunca. E também não se limitou a sonhar um mundo melhor, mais justo e possível. Não ficou nos sonhos, jamais.

Foi à vida, foi ao mundo, para torná-los realidade. Conseguiu, algumas vezes. Fracassou em outras. Disse, muitas e muitas vezes, que sentia orgulho de ter sido derrotado lutando pelo que lutou, do que jamais conseguiria sentir se estivesse ao lado dos vencedores.

Nunca perguntei a Darcy se ele gostava de contas redondas. Volta e meia penso nisso, quando recordo que por poucos meses ele não chegou aos 75 anos de idade. Nasceu em outubro, morreu em fevereiro.

Nove meses separaram Darcy dos 75 anos completos. Curioso isso: nove meses. Uma gestação.

Às vezes o que mais me impressionava é a quantidade de coisas que Darcy Ribeiro fez e foi, e aí me parece curto demais o tempo que lhe foi dado para viver.

E seus quase 75 anos de vida ele foi ministro da Educação, ministro-chefe da Casa Civil, vice-governador do Rio de Janeiro, secretário da Cultura do Rio de Janeiro, secretário de Desenvolvimento Social de Minas Gerais. Foi, até o fim, senador da República. E ele, que se dizia e se sabia eterno, conseguiu ainda a proeza de morrer imortal – porque também teve tempo de sacudir o chão da Academia Brasileira de Letras.

Escreveu romances, ensaios antropológicos, ensaios sobre educação, análises críticas da história do Brasil e da América Latina.

Só de artigos, conferências, palestras e ensaios que nunca foram reunidos em livro, há mais de uma centena.

Seus livros de antropologia, principalmente O Processo Civilizatório, As Américas e a Civilização, e acima de todos O Dilema da América Latina fizeram de Darcy Ribeiro, ao lado de Celso Furtado, o intelectual brasileiro mais respeitado e influente na América Latina da segunda metade do século XX.

Formaram gerações de intelectuais e acadêmicos do continente.

Escreveu histórias infantis e poemas eróticos. Foi indigenista, antropólogo, agitador, romancista, conspirador, mas gostava mesmo é de ser chamado de educador – coisa, aliás, que também foi.

Morreu senador. Darcy Ribeiro adorava ser senador da República.

Nunca perguntei a Darcy Ribeiro qual o fascínio que provocava nele o linho branco. Aquele mesmo linho que meu avô José Augusto usava e dizia ter mandado trazer do Panamá, linho 120.

Lembro que no dia em que foi eleito senador, Darcy Ribeiro vestiu um terno branco, de linho formidável, e ficou andando pela sala de seu apartamento em Copacabana, vendo o mar e falando sem parar.

Estava descalço.

Não consigo tirar da memória essa imagem: Darcy, em casa, em qualquer uma das muitas casas que teve pela vida e pelo mundo, sempre descalço.

Dizia que era por causa de seu sangue índio. Até hoje desconfio que na verdade ele andava descalço para sentir os pés no chão.

Naquele tempo, Chico Buarque ainda não havia escrito o verso que diz “é preciso pôr o chão nos pés”.

Para mim, aquele andar descalço de Darcy de um lado a outro era mais ou menos a antecipação da imagem que Chico criaria anos depois, sem saber disso.

Nunca perguntei a Darcy Ribeiro se ele se considerava um intelectual peculiar. Não perguntei nem precisei perguntar: evidentemente Darcy era peculiar em tudo que fez, e sabia disso.

Jamais se recolheu aos claustros acadêmicos ou da burocracia oficial para de lá ficar olhando a vida ao longe, a realidade transformada em números e estatísticas, a vida como objeto de análise fria, calculada, distante, indolor.

Não: Darcy Ribeiro mergulhou fundo, participou de todas as maneiras que pôde da vida política deste país. E quando foi impedido de continuar participando aqui, engajou-se nos países por onde passou o exílio. No Uruguai, no Chile de Allende, no Peru, ao lado do general Velasco Alvarado, nas suas andanças pela Costa Rica, pelo México, pela Venezuela, Darcy Ribeiro não sossegou um só instante.

Não, não era homem de cochilos e sonos leves: sonhava grande.

Jamais foi homem de ficar na superfície. Acreditava no poder transformador da realidade. Acreditava na indignação.

Seu compromisso básico, o mais perene, chamava-se Brasil. Quis mudar a educação, criando escolas de qualidade para todos; quis salvar os índios, preservando suas culturas e protegendo suas terras; quis mudar a estrutura social que beneficia alguns às custas de todos os outros.

Perdeu.

Num de seus textos mais contundentes, lido quando ele recebeu o título de doutor honoris causa na Sorbonne, em 1978 – foi, aliás o primeiro brasileiro a receber essa honraria, e na época não gozava das glórias de nenhum cargo público ou as benesses das embaixadas: estava exilado – Darcy Ribeiro falou dessas perdas, dessas derrotas. Dizia ele:

Fracassei como antropólogo no propósito mais generoso que me propus: salvar os índios do Brasil. Sim, simplesmente salvá-los.

Fracassei também na realização da minha principal meta como ministro da Educação: a de pôr em marcha um programa educacional que permitisse escolarizar todas as crianças brasileiras.

Fracassei, por igual, nos dois objetivos maiores que me propus como político e como homem de governo: realizar a reforma agrária e pôr sob controle do Estado o capital estrangeiro de caráter mais aventureiro e amoral.

Terminou dizendo que “esses fracassos da minha vida inteira” eram também “os únicos orgulhos que tenho”.

Anos mais tarde, um dos intelectuais latinoamericanos que ele mais influenciou, o escritor uruguaio Eduardo Galeano, escreveu:

“Estes são os seus fracassos. Estas são as suas dignidades”.

No mundo destes tempos de culto ao individualismo, em que a ânsia de ter supera o sonho de ser, em que a generosidade é restrita às coisas e não se refere às pessoas, mais que nunca as dignidades de Darcy Ribeiro são necessárias. Tão desesperadamente necessárias.

Nunca perguntei a Darcy quais eram suas urgências, suas emergências além de viver até a última gota, é claro.

Porque Darcy era um homem de urgências permanentes, de emergências que se alongavam no tempo. Tinham raízes profundas. Eram perenes. Uma espécie de emergência contínua, num renovar incessante.

Havia, em sua maneira de olhar e pensar o Brasil, a América Latina e o mundo, um eixo nítido: o fato de não estarmos condenados a ser o que somos, a certeza de que não somos vítimas de um destino malvado, e sim de um sistema perverso.

O trabalho de Darcy Ribeiro – os sonhos que ele quis transformar em realidade – estava e está destinado a soprar o fogo dessa brasa adormecida, a incendiar a mansidão dos derrotados, a provar que somos sempre e acima de tudo um povo viável, digno de uma outra – e nova – realidade.

Para ele, o Brasil era um problema que só teria e só terá solução a partir de nós mesmos, de nossa capacidade de impulsionar e consolidar mudanças.

Nunca perguntei a Darcy Ribeiro se ele tinha idéia, por menor que fosse, do impacto que algumas das imagens que guardaria dele para sempre provocaram em mim. Convivemos lado a lado, não importando as distâncias, ao longo de 22 anos. E desse tempo todo, lembro agora de duas imagens, e de pelo menos uma certeza.

A certeza:

Foi o único amigo que nasceu no mesmo ano de meu pai e conseguiu ser, até o fim, mais jovem que meu filho.

Dele, ouvi certa vez uma frase que mudou minha vida e assim ficou. Dizia Darcy: “Na América Latina, só temos duas saídas: ser resignados, ou ser indignados. E eu não vou me resignar nunca.”

A primeira imagem que guardo para sempre:

Alta noite do dia 31 de dezembro de 1995, e Darcy Ribeiro estava sentado na varanda do seu apartamento na Avenida Atlântica. Olhava a multidão espalhada pela praia e pelo asfalto e pelas calçadas da avenida. Das alturas daquele quinto andar, ele contemplava tudo com olhos de piloto atento, percorrendo as pessoas, as ondas do mar oceano, as embarcações iluminadas.

Quando faltava pouco para a virada do ano – a penúltima que ele iria ver – duas amigas chegaram na varanda, aproximaram-se da cadeira em que ele estava sentado e colocaram no chão um grande balde prateado, um desses baldes que são usados para esfriar garrafas de vinho.

No balde havia água do mar e areia da praia.

Quando viu o foguetório da meia-noite e do ano que se iniciava, ele mergulhou os pés no balde.

Darcy, naquela noite, adoentado – e muito – não podia ir até o mar. Pois deu um jeito de trazer o mar até ele. Até seus pés descalços. De pôr enfim o mar, a areia, o chão nos pés.

Assim quero me lembrar dele para sempre. Também assim.

A segunda imagem:

Certo fim de tarde de um sábado, poucos meses antes de nos deixar para sempre, ele saiu do escritório de Oscar Niemeyer, naquela mesma Avenida Atlântica.

Vestia um terno branco, e foi caminhando devagar pela calçada até o táxi que esperava por ele.

Do mar, vinha uma brisa cálida. Visto lá do alto, o paletó branco esvoaçando, caminhando devagar, Darcy Ribeiro parecia um veleiro desafiando os ventos, rumo a um futuro – um porto – que só ele poderia adivinhar.

Guardo essa imagem e a certeza de que o porto, aquele porto, é preciso agora, mais do que nunca, merecê-lo.

Porque desta vez Darcy não perdeu, não foi derrotado.

Mudou de rumo.

E aonde quer que esteja, continua como sempre: indignado. E descalço.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

HOMENAGEM À MAZZA!


(Imagem extraída do Jornal Gazeta do Povo, nesta quinta-feira, 10.02.2011)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

VIVER NO PARAÍSO!






























  


Como é viver e conviver no
Condomínio Pablo Picasso, em Curitiba?

O que mais se admira no Condomínio Pablo Picasso é a solidariedade e a camaradagem que reina entre todos os seus moradores.

Afinal, em qual outro lugar de Curitiba, e quem sabe do país, vizinhos fazem todos os anos uma festa de confraternização?

Uma maravilhosa ceia de Natal, com amigo secreto, presentinhos, presentes, presentões, com brincadeiras e tudo o mais?

Neste ano de 2010 teve até uma novidade: a confecção do “Bolo da Vida”. Para isto, cada morador participou da elaboração da massa, e ao colocar e misturar a sua parte de ingredientes também depositou, mentalmente, os seus sonhos e desejos para 2011. Pronto, o bolo foi assado.

Na hora da sobremesa, além de outras iguarias, todos comeram um pedacinho desta obra comum, de sonhos solidários.

Para completar o ciclo natalino, cada família trouxe doações e presentes para uma Instituição da cidade. Tudo encaminhado ao destino no dia seguinte. Em que lugar isto acontece?

Em qual lugar do país, os vizinhos estão sempre prontos a ajudar uns aos outros?

Em qual lugar há tanto apoio e luta coletiva para salvar bens materiais, como carros, motos e tudo o mais, e depois para limpar tudo, em épocas de chuvas fortes e enchentes?

Em qual lugar homens, mulheres, adolescentes e crianças empurram carros ladeira acima (na garagem) para impedir que o patrimônio do vizinho tenha perda total? É óbvio que nem sempre isto é possível. No ano passado, uma das enchentes deu perda total a seis carros e uma moto. Dentro das casas, sob água e lama, muitos bens foram perdidos, inclusive documentos e fotos. Ou seja a memória de muitas famílias. Mas a maioria dos veículos foi salva. Ufa!

Em qual lugar, um vizinho está sempre pronto a ceder uma cebola, batatas, trigo, ovos, ou, seja lá o que faltar na cozinha, fora de hora e de espaço? Ou uma fôrma, um panelão, uma jarra, uma toalha de mesa, um enfeite, uma árvore, uma lâmpada, um arranjo, ou qualquer outra coisa?

Em qual lugar se ganha roupas, sapatos ou casacos das crianças maiores?

Em qual lugar crianças brincam no Dia das Bruxas, perguntando nas portas dos vizinhos: “doces ou travessuras?” E sempre ganham algo, além de muito carinho?

Em qual lugar, médicos, pediatras, engenheiros, arquitetos, professores, filósofos, advogados, jornalistas, bancários, estudantes e domésticas dispõem de suas atividades, além do círculo social e profissional, em favor do próximo e gratuitamente?

Em qual lugar as gerações se sucedem amigas e companheiras nas brincadeiras, dividindo seus brinquedos em favor dos amiguinhos?

Só há um lugar: Condomínio Pablo Picasso. É um tesouro e um imenso privilégio viver e conviver aqui, com pessoas tão preciosas, que se derramam em humanidade e solidariedade.

Neste espírito de Natal, todos trocaram votos de um Magnífico 2011. As orações que precederam a Ceia Natalina foram feitas por uma das médicas e sua doce filha. “Que Deus proteja e dê muita saúde, paz, prosperidade, alegrias e sucesso a cada uma e a cada um, em particular, que mora no Condomínio Pablo Picasso. Sempre!” Também houve pedidos para a Paz Mundial.

Afinal, há um Novo Ano!

É tempo de recomeço, de curar feridas, de limpar cicatrizes, guardar lembranças boas, olhar a beleza que há em volta, aproveitar a vida ao máximo e em felicidade plena.

Os moradores deste pequeno paraíso só têm de agradecer a Deus todas as dádivas recebidas, em especial a de conviverem em comunhão absoluta de amizade e solidariedade. Amém!