sábado, 22 de março de 2008

CECÍLIO ASSOMBRANDO SÃO PEDRO

No final da manhã de ontem houve confusão no céu. São Pedro foi receber Cecílio do Rego Almeida, abriu o site do Google e viu lá que havia 77.600 citações do seu novo hóspede.

Número pequeno para quem teve a vida de Cecílio. Deve ter dado muito mais informações a São Pedro sobre os amores e ódios que despertou enquanto esteve por aqui. Principalmente obre a tal da timidez paranaense que tem um medo danado de quem ousa. Isso dá inveja, foge dos padrões, é duro ter sucesso nessa terra sombreada pelo que sobrou dos pinheirais.

O jornal “O Estado de São Paulo” de sábado, em seu editorial, lembra que foram feitos 490 mil grampos no país no ano passado. Em agosto do 1971, Cecílio grampeou o governador indicado pelo presidente Médici em Copacabana, e tornou êfemera a estada de Haroldo Leon Peres no Palácio Iguaçu. Leon Peres queria uma comissão fora dos padrões dos empreiteiros da época sobre a construção da ferrovia Central do Paraná (Apucarana-P.Grossa), e dançou.

Naqueles tempos grampo detonava até governador, hoje em dia….bem hoje dia… dá serviço comunitário e consultoria de empresas, além do uso e fruto do nosso dinheiro. Cecílio não era fácil. A CR Almeida era “estradeira”, tradução: construtora de rodovias. Queria sua empresa “barrageira”. Sua meta era estar no “surubão”, consórcio das maiores empreiteiras que construíram Itaipu. Se associou à italiana Impregillo que por sua vez tinha interesses na Fiat, para se associar e construir a hidrelétrica de São Simão, na divisa de Minas com Goiás.

Pegou uma briga homérica com a maior empreiteira mineira - a Mendes Junior, e de metralhadora em punho enfrentou a adversária num hotel de Belo Horizonte, e fez São Simão. A Fiat foi pra Minas, mas a CR Almeida não entrou em Itaipu. Não era confiável ao “surubão”, onde estavam a Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS e outras. Cecílio tinha na sua ficha a queda de Leon Peres.

Numa sexta à noite, no início da década de 80, eu estava na Veja , e durante horas, madrugada adentro, ele foi trocando as lentes do seu minúsculo óculos e contando suas aventuras empresariais numa longa entrevista. Era um peitudo, um raçudo. Não respeitava limites, todos que se atravessavam tinham um preço. Fez e desfez feito uma motoniveladora.

A revista não publicou nada e eu perdi essa gravação memorável de um homem que não brincava em serviço, nem fora dele. Será uma perda enorme se ele não deixou registrada suas memórias. Tem gente graúda que torce por isso. São Pedro deve estar assombrado com o que está ouvindo.

(Texto do jornalista Hélio Teixeira publicado no Site Jornale, no Blog do Zé Beto, neste sábado, 22.03.2008)

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