sexta-feira, 2 de julho de 2010

NO CORAÇÃO DO SENTIMENTO

Ando cada vez mais indeciso sobre qual poema colocar
para andar pelos caminhos que não sei.
Então, hoje, ainda muito cedo - o dia era quase um ensaio -
fiquei revirando balaios e cestos de palavras,
retalhos do que escrevi.
Acabei fazendo o seguinte: coloquei os últimos versos neste poema.
Se está bom, se está pronto, não sei.
Gosto que o tempo determine, não eu.
Mas, na premência, é o que segue com o mesmo carinho.

Zeca Corrêa Leite



NO CORAÇÃO DO SENTIMENTO

Espelho dos contrários:
sem palavras, você me diz
as palavras mais cortantes no olhar.

“Assim como se tem chegança,
tem a partida que é o momento do depois”,
continua a argumentar
enquanto silencioso escolho
aquilo que vou levar:
noites de insônia, tardes esquecidas
de outono, copo d´água,
poema pela metade,
a vista dos morros ao longe,
confissões doces em seus lábios
quando ainda eu era encanto,
quando ainda era manhã,
quando a vida era sábado...

O caminho da felicidade é assim,
distraído olhar sem saber ao certo
os pontos cardeais.

A vida em estado latente:
na fúria dos vendavais,
são plenos os breves instantes de paz.

Bagagem pouca a levar comigo.

Pelo caminhos vou perder
retalhos do meu amor.
No final de tudo restarão lembranças,
cores cansadas da cor,
fiapos de luz, alegria e dor.

Dizem-me os anjos que o impossível
é o prenúncio da esperança,
que do nada inicia o romper da madrugada.

(meu peito com sombras de ontem,
carrega passado, presente, horizonte.)

Ilusão desiludida é assim que me vejo,
na hora da partida.

Tão leve a bagagem, tão pesado o coração!

Mas, em algum lugar do peito,
se ensaiam nascimentos
de outras esferas e momentos,
como se na vida tudo fosse pentimento.

Sei que o encontro,
(ambicionado reencontro)
virá no mais simples dos momentos,
num dia que não se anuncia,
no coração do sentimento.

Zeca Corrêa Leite

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