sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

ACREDITE! EU SOU COMADRE DE SÃO FRANCISCO E DE SANTO ANTÔNIO

Padre Gustavo, quando era capelão
no Palácio Iguaçu,
certa manhã,
tornou-me comadre de Santo Antônio e São Francisco

Muito criança ainda, meu filho João, convidou o meu irmão mais novo para ser o padrinho dele quando fosse receber o Sacramento da Crisma. A data seria definida depois. Os anos se passaram e nós, irmãos, nos separamos. Cada um de nós foi trabalhar e morar em outras plagas e até no exterior. O que dificultava o apadrinhamento e a Crisma.

Anos depois, retornamos a Curitiba. O padre Gustavo era capelão no Palácio Iguaçu, sede do Governo do Estado do Paraná, e sempre me convidava para fazer as leituras nas Missas, o que eu fazia com prazer. Certa manhã, ele me avisou que, naquela semana, ele daria o Sacramento da Crisma na Capela do Palácio e perguntou-me se o meu filho gostaria de ser crismado.

Ao chegar em minha casa, falei sobre a crisma com o meu filho e ele topou. Mas avisou-me que não queria mais que o seu padrinho fosse o tio. Iria convidar outra pessoa e me pediu para avisá-lo do “desconvite”. Puro descalabro. Ele que o convidou, ele que o “desconvidasse”, o que seria uma enorme grosseria. E eu jamais o faria. Era responsabilidade dele, João.

Como todo adolescente, deixou o problema para ser resolvido depois. Pegou o telefone e começou a ligar para os possíveis futuros padrinhos. Entre todos os escolhidos, nenhuma tentativa obteve sucesso. Todos estavam viajando. E, por coincidência, o meu irmão tinha chegado do exterior para passar as férias e se encontrava em Curitiba.

Então, eu conversei com o meu filho:

- Filho, enfrente a situação. Telefone para o seu tio e, com o máximo tato, explique a razão do “desconvite”.
- Não tenho coragem. Ele ficará magoado.
- Mas você não pode convidar outro padrinho sem, antes, “desconvidar” o seu tio.
- Está bem! Está bem. Vou dar uma saída e depois eu resolvo isso.
- Mas a crisma já é amanhã, pela manhã, às 8 horas.
- Eu sei! Eu sei! Tchau! Volto logo. Não se preocupe.

Cinco minutos depois, o meu filho me telefona:

- Mãe, adivinha com quem eu dei de cara bem na esquina de nossa casa?
- Não sei.
- Com o tio “padrinho”.
- E daí? Explicou para ele que não quer mais ser o seu afilhado de crisma?
- Ora, mãe!!! E eu sou louco de contrariar Deus?!
(Muitos risos, de ambas as partes).
Mãe, eu avisei o tio da Missa, da Crisma, do horário e local.
- E ele?
- O tio ficou super feliz e disse que estará lá amanhã bem cedo.
- Ótimo, meu filho. Assim é melhor, ninguém fica magoado. E com você, tudo bem?
- Claro mãe. Tudo bem. Fico em paz.
- Ótimo! Então não chegue tarde para não perder a hora.
- Fique tranqüila. Estarei acordado a tempo e irei com você.

Bem cedo na manhã seguinte, estávamos, meu filho e eu, com os outros pais e crismandos à porta da Capela do Palácio Iguaçu. Padre Gustavo, sorridente, recebia a todos com delicadeza.

Mas os minutos foram se passando e nada de chegar o padrinho de meu filho. Esperamos 10, 15, 20, 25 minutos e nada da presença do meu irmão. Então, fomos conversar com o padre Gustavo e explicar a ausência do tio/padrinho.

Meu filho, já aflito perguntou:

- E se ele não chegar, padre, o que a gente faz?
- Não se preocupem. Vocês têm um Santo de devoção?
- Sim! (respondemos em coro).
- Ótimo! Qual é?
- São Francisco! (disse o meu filho, em eco à minha “intrometida” resposta: Santo Antônio!)

Meu filho e eu nos entreolhamos. E eu lhe disse:
- Desculpe, meu filho. O padrinho é seu e a escolha deve ser sua também. Desculpe-me!

O bom padre Gustavo sorriu e contemporizou.

- Tudo bem. Os dois Santos podem ser os seus padrinhos. Sua mãe os representará no momento da Crisma e você terá dois padrinhos Santos.

Nós rimos e comemoramos.

O tio/padrinho evaporou e não apareceu nem no fim da Missa.

No momento da Crisma de meu filho, eu fui chamada e representei os dois Santos: São Francisco e Santo Antônio.

Ao terminar a Missa, padre Gustavo cumprimentou os pais, os padrinhos e os crismandos. E disse:

- Hoje é um dia muito especial para mim. A partir de hoje, eu posso dizer que sou amigo da comadre de São Francisco e de Santo Antônio.
(Todos riram muito).

Eu lamento apenas a perda do padre Gustavo, um bom homem, médico devotado e amigo fiel e generoso. Após a morte do padre Gustavo, nunca mais as Missas foram as mesmas na Capela do Palácio Iguaçu, ao menos para mim, a comadre de Santo Antônio e de São Francisco.

Em Tempo: O Tio/padrinho perdeu a hora. Só acordou após o almoço. Um pouquinho tarde demais para uma Missa matinal. Mesmo assim, ele se diz também padrinho de meu filho.

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