Neste ano, o país ficou em choque com a cena brutal do corpo do menino, João Hélio, de seis anos, arrastado pelas ruas do Rio de Janeiro, preso ao cinto de segurança do carro conduzido por ladrões. Depois, em Mauá, na grande São Paulo, a garotinha Vitória Gabrielly, de três anos, recebeu uma bala perdida, enquanto estava no colo do avô. Em Carazinho, no Rio Grande do Sul, Michele Vargas, de 10 anos, levou sete facadas no peito, ao se recusar a entregar a um ladrão, os 12 reais obtidos no trabalho da venda de rifas nas ruas da cidade. E, há poucos dias, em Bauru, interior de São Paulo, um garoto de 15 anos, Carlos Rodrigues Júnior, foi morto por choques elétricos aplicados durante sessão de tortura a que foi submetido, logo depois de ser interrogado por seis maus policiais militares. Todas essas crianças morreram, atingidas pelas mais diferentes formas de violência que se espalha pelo país e que comove e choca a todos.
Mas há muito mais por se indignar e se chocar no Brasil. Precisamos abrir nossos olhos, mentes e corações diante de outro tipo de violência, a silenciosa e sinistra que atinge nossas crianças e adolescentes, a violência sexual.
Esta mata em vida, porque mata a inocência e a alma. E não há clamor popular, manchetes em jornais. E nem sabemos o número certo dessa violência que torna crianças e adolescentes tão vítimas como as que morreram.
No nosso trabalho de jornalista, já percebemos a morte silenciosa da infância e já nos unimos neste combate que deve ser de cada um. É uma luta de todos nós, de toda a sociedade. É preciso o esforço coletivo, a atitude firme de cada pessoa, o debate do problema, sob os mais variados ângulos e olhares, além de assinaturas de pactos, de planos, articulações, políticas públicas, orçamentárias e o enfrentamento de novos desafios.
Falta ainda muito por fazer. E a ninguém é dado o direito de se omitir. A ninguém é dado o direito de se tornar espectador, espectadora ou cúmplice indireto desse tipo de crime.
Eu falo a você, ao seu coração e à sua mente aberta. Quero falar com o menino e a menina que, todos nós, um dia já fomos. Neste momento, não me interessa o cargo e a função que você ocupa, nem o que faz para viver. Dirijo-me a você, que abriu este Blog e decidiu ler este texto.
Neste momento, eu gostaria de ter a sua reflexão mais profunda em busca da resposta para o que de fato você deseja na vida. Eu quero saber se você é capaz de ousar, sonhar e encontrar as aspirações reais de seu coração.
Não me interessa a sua idade, eu quero saber se você é capaz de se transformar em um tolo, ou uma tola, para amar, viver os seus sonhos e aventurar-se a estar plenamente vivo ou viva.
Também não me interessa qual planeta está em quadratura com a sua lua. São detalhes.
Eu quero saber se você já tocou o centro de sua tristeza, se você já passou, ou passa, por traições da vida, ou se tem se contorcido, e se fechado ou fechada, com medo da próxima dor ou tristeza.
Eu quero saber se você é capaz de se sentar com a sua dor, a minha dor, com a dor dos excluídos deste país, sem tentar escondê-la ou diminuí-la. Mas, sim, encará-la de frente.
Eu quero saber se você pode rir de alegria, da sua, da minha e do próximo, e senti-la como se fosse a sua alegria.
E se você é capaz de dançar, loucamente, e deixar que o êxtase o envolva, a envolva, até as pontas dos dedos dos pés e das mãos, sem aceitar conselho para ser mais cuidadoso, mais cuidadosa, mais realista, e nem sequer se lembrar de suas limitações humanas.
Também não me interessa, neste momento, se a história que você conta é verdadeira ou falsa.
O que eu quero saber é se você é capaz de desapontar o outro, a outra, para manter a sua verdade.
Se você é capaz de suportar a acusação de traição e não trair. E, ainda, se é capaz de jamais trair a sua própria alma.
Eu quero saber se você tem certeza que pode ser confiável. E só você pode dar esta resposta.
Eu quero saber se você pode ver a beleza, mesmo quando o dia está cinza, brusco e carregado de nuvens. E mesmo assim ligar a sua vida à presença de Deus.
Eu quero saber se você é capaz de viver com os seus fracassos, os meus fracassos, aceitar os erros, reconhecê-los, admiti-los e, mesmo assim, sentar-se às margens de um lago e gritar para os reflexos da lua: “Sim! Eu errei! Eu aceito! E vou tentar fazer melhor!”
Também não me interessa, neste momento, onde você mora e quanto dinheiro tem. Eu quero saber se é capaz de acordar depois de uma noite de luto, de desespero absoluto, de solidão, exaustão e ferido, e ferida, até o mais fundo da alma, levantar e fazer aquilo que precisa ser feito.
Não me interessa, neste momento, quem você é e como chegou até aqui. Mas eu preciso saber se você tem coragem suficiente para se sentar comigo no centro do fogo, não fugir, e arder comigo até o final.
Não me interessa onde, quando e com quem esteve ou está. Eu preciso saber o que sustenta você, interiormente, quando tudo desaba ao seu redor.
Eu preciso saber se você é capaz de ficar só, consigo, e se realmente é boa companhia para si, nos momentos mais vazios, de desespero e de solidão total.
Porque eu conheço centenas e centenas de pessoas assim, como você, que aqui está, generosa e solidariamente, nesta leitura, e a edificar o dia-a-dia deste país e, ainda, aos poucos, ajuda a transformar a nossa cultura, até aqui viciada.
Por isso, acredite, nenhum de nós está aqui por acaso. Estamos aqui para somar inteligência, força, cabeça e corações. Acredite: juntos, somos uma potência!
E que Deus nos ajude a fazer o melhor, individual e coletivamente, neste país. Em especial pelas crianças, adolescentes e excluídos do Brasil.
Feliz 2008!
Vania Mara Welte
* Busquei inspiração também na letra da música “Angel”, enviada para mim, há mais de seis anos, por uma pessoa importante que já se foi...
Mas há muito mais por se indignar e se chocar no Brasil. Precisamos abrir nossos olhos, mentes e corações diante de outro tipo de violência, a silenciosa e sinistra que atinge nossas crianças e adolescentes, a violência sexual.
Esta mata em vida, porque mata a inocência e a alma. E não há clamor popular, manchetes em jornais. E nem sabemos o número certo dessa violência que torna crianças e adolescentes tão vítimas como as que morreram.
No nosso trabalho de jornalista, já percebemos a morte silenciosa da infância e já nos unimos neste combate que deve ser de cada um. É uma luta de todos nós, de toda a sociedade. É preciso o esforço coletivo, a atitude firme de cada pessoa, o debate do problema, sob os mais variados ângulos e olhares, além de assinaturas de pactos, de planos, articulações, políticas públicas, orçamentárias e o enfrentamento de novos desafios.
Falta ainda muito por fazer. E a ninguém é dado o direito de se omitir. A ninguém é dado o direito de se tornar espectador, espectadora ou cúmplice indireto desse tipo de crime.
Eu falo a você, ao seu coração e à sua mente aberta. Quero falar com o menino e a menina que, todos nós, um dia já fomos. Neste momento, não me interessa o cargo e a função que você ocupa, nem o que faz para viver. Dirijo-me a você, que abriu este Blog e decidiu ler este texto.
Neste momento, eu gostaria de ter a sua reflexão mais profunda em busca da resposta para o que de fato você deseja na vida. Eu quero saber se você é capaz de ousar, sonhar e encontrar as aspirações reais de seu coração.
Não me interessa a sua idade, eu quero saber se você é capaz de se transformar em um tolo, ou uma tola, para amar, viver os seus sonhos e aventurar-se a estar plenamente vivo ou viva.
Também não me interessa qual planeta está em quadratura com a sua lua. São detalhes.
Eu quero saber se você já tocou o centro de sua tristeza, se você já passou, ou passa, por traições da vida, ou se tem se contorcido, e se fechado ou fechada, com medo da próxima dor ou tristeza.
Eu quero saber se você é capaz de se sentar com a sua dor, a minha dor, com a dor dos excluídos deste país, sem tentar escondê-la ou diminuí-la. Mas, sim, encará-la de frente.
Eu quero saber se você pode rir de alegria, da sua, da minha e do próximo, e senti-la como se fosse a sua alegria.
E se você é capaz de dançar, loucamente, e deixar que o êxtase o envolva, a envolva, até as pontas dos dedos dos pés e das mãos, sem aceitar conselho para ser mais cuidadoso, mais cuidadosa, mais realista, e nem sequer se lembrar de suas limitações humanas.
Também não me interessa, neste momento, se a história que você conta é verdadeira ou falsa.
O que eu quero saber é se você é capaz de desapontar o outro, a outra, para manter a sua verdade.
Se você é capaz de suportar a acusação de traição e não trair. E, ainda, se é capaz de jamais trair a sua própria alma.
Eu quero saber se você tem certeza que pode ser confiável. E só você pode dar esta resposta.
Eu quero saber se você pode ver a beleza, mesmo quando o dia está cinza, brusco e carregado de nuvens. E mesmo assim ligar a sua vida à presença de Deus.
Eu quero saber se você é capaz de viver com os seus fracassos, os meus fracassos, aceitar os erros, reconhecê-los, admiti-los e, mesmo assim, sentar-se às margens de um lago e gritar para os reflexos da lua: “Sim! Eu errei! Eu aceito! E vou tentar fazer melhor!”
Também não me interessa, neste momento, onde você mora e quanto dinheiro tem. Eu quero saber se é capaz de acordar depois de uma noite de luto, de desespero absoluto, de solidão, exaustão e ferido, e ferida, até o mais fundo da alma, levantar e fazer aquilo que precisa ser feito.
Não me interessa, neste momento, quem você é e como chegou até aqui. Mas eu preciso saber se você tem coragem suficiente para se sentar comigo no centro do fogo, não fugir, e arder comigo até o final.
Não me interessa onde, quando e com quem esteve ou está. Eu preciso saber o que sustenta você, interiormente, quando tudo desaba ao seu redor.
Eu preciso saber se você é capaz de ficar só, consigo, e se realmente é boa companhia para si, nos momentos mais vazios, de desespero e de solidão total.
Porque eu conheço centenas e centenas de pessoas assim, como você, que aqui está, generosa e solidariamente, nesta leitura, e a edificar o dia-a-dia deste país e, ainda, aos poucos, ajuda a transformar a nossa cultura, até aqui viciada.
Por isso, acredite, nenhum de nós está aqui por acaso. Estamos aqui para somar inteligência, força, cabeça e corações. Acredite: juntos, somos uma potência!
E que Deus nos ajude a fazer o melhor, individual e coletivamente, neste país. Em especial pelas crianças, adolescentes e excluídos do Brasil.
Feliz 2008!
Vania Mara Welte
* Busquei inspiração também na letra da música “Angel”, enviada para mim, há mais de seis anos, por uma pessoa importante que já se foi...
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