sexta-feira, 12 de março de 2010

SEU JOÃO, O XARÁ






Seu João Octaviano Picheth Neto
era uma figura doce e discreta.
O vizinho que todo mundo sonha em ter um dia


No condomínio onde morava, há pouco mais de 20 anos, fazia parte de uma das mais belas, unidas e exemplares famílias. E, no local, só fez amigos. Nada em seu bem cuidado físico, sempre bronzeado, mostrava os seus 61 anos de vida. Parecia bem mais jovem. Ao lado dos filhos, era o irmão mais velho, o camarada. E, entre todos os moradores, sempre foi o único que jamais deixou de fazer a sua caminhada pela ciclovia do Alto da XV.

Bem humorado e civilizado cumprimentava a todos com a mesma delicadeza e discrição. As crianças o adoravam e ele retribuía. Havia até alguns rituais particulares. Ao ver o meu netinho, de dois anos, era polegar para cima e o cumprimento de sempre: “como vai Xarazinho? Tudo bem?”

A resposta era imediata, com sorrisos e muita alegria. Polegarzinho para cima e: “tudo bem, Xará. Tudo bem?”

Como se tivessem a mesma idade, a comunicação e a empatia eram imediatas. Seu João também gostava dos bichinhos, dos labradores – Cauã e Pipoca – passando por todas as outras raças e nomes, até os passarinhos que povoam a região.

Mas, assim como viveu, silenciosamente, em uma madrugada dessas deitou para dormir e não acordou mais. Sua morte enlutou a todos nós, em especial Rejane, Rodrigo, Fernanda e Tiago.

O Xarazinho chorou quando soube que nunca mais iria ver o Xará amigo, porque ele havia se mudado para o céu. Mas acreditou que, lá de cima, Xará o vê e faz o mesmo sinal, com as mesmas perguntas. Assim, Xarazinho aquietou o seu pequenino coração.

Mas, na primeira manhã que saiu ao jardim, Xarazinho se lembrou de dizer: “vovó, o Xará morava ali, naquele cantinho, não é? Mas agora ele está lá no céu com o vovô João Carlos e com a vovó Vilma...” E foi até a porta do vizinho e ficou parado, olhando... Diante do silêncio absoluto, voltou e me deu um grande e carinhoso abraço.

Depois, foi brincar, no espaço coletivo, de perseguir os passarinhos do jardim...

E, talvez, por esta razão, após sete dias da morte de seu João, o Xará, na Missa que foi celebrada em sua homenagem, pelo padre Orides, na Igreja Cristo Rei, além de parentes, amigos e vizinhos, de repente...surgiu um pássaro.

O nome, era muito significativo. Um João de Barro entrou voando pela nave da Igreja e se colocou em um dos últimos bancos. Assistiu à Missa inteirinha, sem se incomodar com as pessoas que passavam ao seu lado. Só saiu dali ao seu final.

E para quem ousasse não acreditar em sua presença, o João de Barro se deixou fotografar em diversos momentos.

Uma mágica, belíssima e merecida homenagem ao gentil seu João Octaviano Picheth Neto.


Vania Mara Welte

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