De 2002 a 2005, a jornalista Vania Mara Welte
– ganhadora do Prêmio Esso de Jornalismo –
conseguiu algo quase tão difícil
quanto entrevistar Dalton Trevisan:
entrevistou Francisco Cunha Pereira Filho,
sempre de forma esporádica
Os primeiros contatos para tentar a entrevista foram feitos, ainda em 2002, pela própria repórter com as empresas de Francisco Cunha Pereira Filho. As tentativas foram inúmeras. Mas, desistir, jamais. As secretárias do empresário das comunicações ficavam de retornar a ligação, dando a resposta. E nada. Até que, certo dia, a jornalista deixou os números dos telefones onde poderia ser encontrada. Os fixos, da sua residência e inclusive dos locais onde trabalhava, e o do celular. E avisou que ficaria no aguardo da resposta, mesmo que fosse um “não”.
Dias depois, na redação da Comunicação Social do Palácio Iguaçu, onde a repórter também trabalhava, a jornalista Alícia Dudeque, que cumpria o período da tarde, atendeu um telefonema:
– Alô! Pois não?
– Por favor, eu quero falar com a jornalista Vania Mara Welte.
– Ela não está. Ela trabalha no período da manhã e já foi embora. O senhor quer deixar recado? Quem é que está falando?
– Francisco Cunha Pereira Filho.
– Francisco Cunha Pereira Filho?
– Sim.
– Ah! É? E aqui é a rainha Elizabeth!
– Mas aqui é o Francisco Cunha Pereira Filho, sim.
– O diretor-presidente da Rede Paranaense de Televisão?
– Sim! (rindo)
– Deixe de brincadeira... O que o senhor deseja? (Séria, achando que alguém lhe pregava uma peça.)
– Gostaria de falar com a Vania para marcar a entrevista que ela quer fazer comigo.
– Tudo bem. E quem eu digo que ligou?
– O Francisco Cunha Pereira Filho.
– Ah! Por que o senhor não diz a verdade?
– Porque sou o Francisco, mesmo! (Rindo muito e Alícia ainda duvidando.)
– Está bem. E eu sou a rainha da Inglaterra, mas vou anotar o seu recado.
– Alô!
– Por favor, gostaria de falar com a jornalista Vania Mara Welte.
– É ela. Quem está falando, por favor?
– Francisco Cunha Pereira Filho.
(Um breve silêncio e o espanto)
– Doutor Francisco?
– Sim! Da Gazeta. Você não esperava o meu retorno?
– Eu aguardava o retorno de uma de suas secretárias.
– Mas se eu mesmo posso ligar para você, por que não fazê-lo? Estou a sua procura. Eu já liguei para o seu celular, para o Palácio Iguaçu, onde fui atendido pela rainha Elizabeth (rindo), e agora para a sua casa.
– O senhor é mesmo uma pessoa incrível (lembrando das dificuldades e da distância que alguns entrevistados gostam de colocar entre si e o jornalista).
– Você quer uma entrevista, não é?
– Sim, quero entrevistá-lo, se for possível.
– Vamos lá. A entrevista é por telefone?
– Não, doutor Francisco. Tem de ser pessoalmente. Tudo bem?
– Você pode me mandar as perguntas, para eu ter uma idéia do teor da entrevista?
– Ah! Não dá, não, porque eu pretendo fazer uma entrevista intimista, um perfil seu...
- Ih! Como vai ser isso?
– Eu pergunto e o senhor responde. (risos) E na medida em que o senhor vai falando, novas perguntas irão surgindo. Assim a entrevista fica melhor.
– E qual será a primeira pergunta?
– Qual é a sua mais remota lembrança de infância?
– Nossa! (rindo)
– Não se preocupe, já falei com algumas pessoas e elas me contaram algumas histórias suas...
– Ui! Que medo! (risos dos dois lados).
– São histórias ótimas. Todas em seu favor.
– Hummmm.... (rindo). Vamos ver... Você telefona na segunda-feira, pela manhã, para a minha secretária. Vamos estudar a agenda para marcarmos a data e o horário.
– Obrigada. E devo ligar para qual das suas secretárias?
– Para dona Iracilda.
– Na Gazeta do Povo?
– Isso. Ela me localiza onde eu estiver. Está bem?
– Ótimo. Muito obrigada.
– Boa noite.
– Boa noite.
A primeira e a terceira foram realizadas, no gabinete do entrevistado, no Palacete do Batel – que pertencia ao governador do Paraná, Moisés Lupion, já falecido – e que servia, na época, de sede à Rede Paranaense de Televisão.
A segunda etapa da entrevista se deu na sala dele, na sede da Gazeta do Povo – foi bem no dia em que o porta-voz da presidência da República, ministro Sérgio Amaral (já falecido), saiu em defesa do então presidente Fernando Henrique Cardoso e da liturgia do cargo que ele ocupava. Entre perguntas e respostas, pequenas interrupções.
O entrevistado tinha de atender o telefone, passar os olhos nas cópias das páginas que fechavam o jornal e que eram trazidas, da redação até a mesa dele, pela secretária Mariza Keiko Suzuki. Após observações do chefe, Mariza as devolvia à redação. Em uma das páginas, problemas. Nos intervalos disso tudo, assistiu ao Jornal Nacional da Rede Globo. Diante da exposição das matérias locais, demonstrou seu entusiasmo. “Imagens nossas. Matéria nossa”, disse algumas vezes, sorrindo satisfeito. Mas diante dos problemas do fechamento do jornal, não deu outra: a entrevista teve de ser novamente interrompida.
Na mesma noite, um novo telefonema do entrevistado à jornalista Vania. Gentil, ele falou sobre as dificuldades daquela noite. E reafirmou o encontro para finalizar a entrevista. A terceira fase foi iniciada e mais uma vez interrompida, por longos meses e culpa de circunstâncias da vida atribulada, do entrevistado e da jornalista.
Nas três primeiras etapas do trabalho jornalístico com Francisco Cunha Pereira Filho, a entrevistadora fez algumas observações. Foram feitas em idas e vindas, em corredores e salas de espera povoadas de pessoas importantes e anônimas, oriundas das mais diversas partes, atividades e estratos sociais, em entrevistas entrecortadas por telefonemas e urgências distintas, tanto no Palacete do Batel, como na sede da Gazeta. Os cenários sempre contrastaram com a simplicidade do homem que conduziu, por muitos anos, o maior quinhão do quarto poder deste estado. E o resultado desse contraste pode ser medido pela grandeza de sua própria dimensão humana.
(Entrevista concedida à Vania Mara Welte, publicada no Caderno Especial do Jornal Gazeta do Povo, nesta quinta-feira, 19.03.2009)
Nenhum comentário:
Postar um comentário